A ciência dos antigos

Nesta eleição, as igrejas evangélicas neopentecostais tem tido um papel bastante relevante nas eleições com apoio a candidatos, e líderes dessas igrejas direcionando os seus fiéis a votarem nos candidatos indicados por eles. É muito importante ressaltar que fiéis dessas igrejas são uma parcela bastante relevante do eleitorado brasileiro. É um eleitorado fiel e leal aos conceitos ministrados por seus líderes, o que se torna um objeto de cobiça pelos candidatos em disputa. Também é importante ressaltar que muitas dessas igrejas compartilham de conceitos conservadores baseados em pautas de costumes, sendo estes bastante restritivos em questões comportamentais, tais como vestimenta, orientação sexual, comportamento, disciplina, preferências para consumo, negócios, emprego, sendo assim os seus líderes como importantes imperativos e dotados de grande poder de influência.

A questão que quero levantar aqui é como que esse poder de influência se formou, mas não pela situação atual, mas por conta de uma raiz histórica. É necessário entender porque que muitas pessoas que seguem cegamente esses conceitos religiosos possuem um comportamento bastante influenciável em relação a seus líderes, mesmo que esses líderes tenham falhas de conduta severas, e pode são usar o seu poder de influência para desvirtuar conceitos e influenciar pessoas a fazerem coisas que não têm relação nenhuma com a religião, como por exemplo votar em um candidato contestável.

A gente precisa entender que nos tempos antigos questões fundamentais da existência humana também existiam e também o ser humano não tinha meios de produzir e validar o seu conhecimento. Tudo o que sabiam era um passados por seus antepassados, que simplesmente acreditavam que aquele fato que repassavam aos seus descendentes era uma verdade. Muitos dos conceitos encontrados no antigo testamento da Bíblia tinham relação direta com o conceitos apreendidos de geração para geração em que houve de fato muito conteúdo empírico, mas repassado a seus descendentes na forma de um conceito que tinha um caráter de lei, de ordem, e que não era justificado. Os dez mandamentos, que é considerado dentro do cristianismo a lei máxima da religião cristã apenas tem 10 conceitos de ordem, sem nenhum texto adicional justificando essas ordens. Isso era necessário para que essas informações pudessem ser disseminadas rapidamente e assimiladas rapidamente pelas pessoas, porque não havia de certa forma um sistema de comunicação de massa que pudesse replicar essa informação de forma rápida, então tinha que se passar informações simples que pudessem ser transmitidas de boca a boca entre as pessoas que compartilham de uma mesma crença.

Quando a igreja católica se organizou na idade média o conceito ficou sistematizado, porém com o isolamento provocado pela peste negra e o regime feudal, parte dos conceitos se deturparam, colocando a figura do padre como autoridade máxima da religião onde havia muitos párocos que não compartilhavam plenamente de todos os conceitos bíblicos e também não tinham a preparação necessária para isso, inclusive com muitos padres analfabetos. A reforma de Lutero forçou a igreja católica se reformar tendo que impor uma norma mais rígida de formação de párocos, e a imposição de normas que tornassem a igreja católica com uma estrutura mais rígida.

Quando chegou a idade moderna, o conhecimento começou a se dissociar de conceitos religiosos. Primeiro pelos processos de experimentação de diversos pensadores, alguns deles punidos pela igreja. Mas partiu de um pensador oriundo da própria igreja a consolidação do conhecimento independente de dogmas religiosos. Foi com René descartes, com o seu pensamento cartesiano, que se introduziu conceitos que passaram a ser considerados como método científico, e assim permitiu-se com que um conhecimento pudesse ser descoberto e validado.

A revolução francesa provocou uma mudança muito forte na questão do poder. Era um dos últimos pontos que separava estado de igreja. A igreja exercia um grande poder político, a sucessão monárquica, já que grande maioria dos países europeus eram monarquias precisavam ter algum tipo de validação ou aval da igreja por meio do Papa. Quando veio a revolução francesa esse poder da igreja diminuiu, e o poder do capital cresceu, com a ascensão da burguesia.

A burguesia entendeu que era preciso investir em conhecimento para que este se tornasse mais poderoso. Os mecenas financiaram grandes projetos, que vieram desde da navegação, até a produção industrial, e a descoberta de novas fontes de energia como a eletricidade. Isto fez com que cada vez mais o conhecimento se tornasse cada vez mais independente do modelo religioso.

Assim se tem uma classe cada vez mais intelectualizada e com o domínio da técnica, encontra. A uma grande quantidade de pessoas que não tinham o domínio da técnica apenas faziam atividades que eram vistas como indispensáveis à produção, mas que não tinham acesso ao domínio da técnica, ao domínio da produção, ao domínio da tecnologia.

Chegamos a modernidade. Hoje a tecnologia está cada vez mais acessível graças ao avanço tecnológico e das tecnologias de comunicação e informação, fazendo com que o acesso ao conhecimento se tornasse mais facilitado. Para um pequeno grupo de burgueses, isto seria uma ameaça pois tornaria a economia mais competitiva, com mais pessoas participando do processo econômico e com a possibilidade de maior justiça social. Mas não podemos deixar de esquecer que nos séculos XVII e XVIII, o escravismo foi um grande elemento motriz do capital. E no início do século 20, as condições de trabalho nas indústrias e carvoarias eram condições análogas à escravidão, com jornada de trabalho de até 16 horas diárias inclusive com o emprego de trabalho infantil. Sempre buscou-se para garantir o aumento de suas margens de lucro o barateamento dos custos de produção, sobretudo a mão de obra.

Qual a relação hoje entre capitalismo e o fanatismo? Entende-se de que muitos grupos burgueses apoiam modelos de fanatismo religioso porque esses modelos vão fazer com que as pessoas abdiquem de seus poderes de produzir e validar conhecimento. Seria o fanatismo hoje uma espécie de placebo, fazendo com que a pessoa acredite que esteja recebendo “ciência”, quando na verdade não está. Isto não vale a pena para a religião. Muita parte da propagação de notícias mentirosas e desinformação partem de princípios do senso comum, preconceitos mantidos e não contestados pois a educação para a população que não é de uma elite intelectual, é uma educação meramente instrumental para habilitar essas pessoas a desempenhar suas tarefas laborais de baixo nível.

Historicamente, a religião era a ciência dos antigos. Quando Descartes introduziu o método científico, houve um descolamento entre o que é dogma, e o que é conhecimento, pois o primeiro é validado pela crença e o segundo pela experimentação e prova. Pessoas sem o acesso ao conhecimento precisam se ver intelectualmente respeitadas, e por isso se agarram a crenças e dogmas, por considerar que é uma “ciência”. O conhecimento foi intelectualizado e abduzido pelo capital, colocando apenas uma pequena classe de pessoas, o acesso pleno ao conhecimento e ao método de criação e validação de conhecimento, coisa que a maioria das pessoas lhes é negado o acesso. O “conhecimento formal” que recebem é apenas para instrumentalizar essas pessoas a realizar as tarefas laborais cabíveis a elas. Abrir o conhecimento amplo às pessoas significa dar a elas a autonomia e a independência, pois se esse conhecimento é limitado, essa pessoa não saberá que há alternativas e poderes, se tornando presa fácil para qualquer tipo de ludibriação.

O objetivo desse artigo não é invalidar a religião. O objetivo desse artigo é evitar que a religião seja deturpada por lideranças que não tenham compromisso em manter a integralidade da religião, corrompendo-a para satisfazer a interesses particulares ou de seus grupos de interesse. A religião foi a ciência dos antigos, e esse papel histórico não pode ser negado. Mas hoje nós temos uma nova ciência, que precisa ser acessível a todos para que possamos professar a nossa fé sem ficar preso a ninguém.

O anti-clímax

A economia mundial está à beira de um ataque de nervos. A crise grega abre precedente para uma nova grande depressão mundial. O primeiro-ministro grego chegou a anunciar um referendo para que os gregos escolham se querem ou não continuar na zona do euro, mas… refugou. O medo de sair da eurozona com uma mão na frente, outra atrás, pesou. E esse anti-clímax se dá hoje pois a Europa criou um mercado, criou uma moeda, mas não criou padrões de ajustes fiscais mais claros, detalhados e rígidos a seus países-membros. Isso permitiu o descontrole do gasto público, elevado endividamento e risco de quebradeira e calote, exemplo que vemos na Grécia.

O mal maior dessa crise, em que vemos os mercados em franca turbulência, existe devido a questões estatutárias e culturais de cada país. Enquanto o alemão se aposenta aos 75 anos, o grego se aposenta aos sessenta, fazendo que o alemão também pague a aposentadoria do grego. Há também um funcionalismo público muito grande na Grécia, tornando o estado muito caro. Essa gastança exige dinheiro, que os gregos pediram emprestado e agora não podem mais pagar. A crise grega é fruto da tentativa frustrada de unificar economias nacionais, mas sem observar as particularidades econômicas de cada nação europeia. Para que uma economia seja plenamente conduzida é preciso padrões de conformidade comuns entre todos os locais influenciados por essa condução. E esse padrão gera uma relação paradoxal, pois é fundamental a sua existência, mas prejudica a todos que defendem privilégios, pois coloca todos em um mesmo patamar de direitos e deveres.O desafio agora é corrigir as falhas e estabelecer esses padrões mesmo a contra-gosto de muitos países.

Privilégio é um termo próprio do capitalismo. Quando é necessário um movimento de unificar entidades, podem ocorrer três possibilidades: mescla, imposição ou ruptura/ conflito. Ao criar a União europeia, certamente o intuito foi de mescla, mas a falta de imposição de uma unidade, está provocando esses conflitos. O mercado comum é uma forma de salvar o capitalismo com a conjunção de forças, mas vemos que este movimento evidencia a falência deste sistema, pois o acúmulo de capital fortalece um pequeno grupo de privilegiados sob o preço de prejudicar um grande grupo de pessoas.

Assim conclui-se: é preciso mudar os rumos da humanidade.