Falta pouco para a Copa. Mas falta muito para ficarmos prontos. Aeroportos, estradas, ferrovias, trens-bala, metrô, estádios, tudo prometido. Nada ficará pronto como se espera, nada ficará para o futuro além de elefantes brancos, puxadinhos, gambiarras e projetos que jamais sairão do papel.
O Brasil não tem capacidade de gerir, pois os que gerem não tem competência em agir, exceto se for em causa própria. Estamos eternamente deitados em berço esplêndido, aguardando dos céus um Messias que faça as coisas.
Não obstante vemos muitos malandros se dizendo os salvadores da pátria, prometendo em troca de votos, dízimo e silêncio um Paraíso, quando se tem somente promessas e discórdia, incitações de ódio e mentiras, em um jogo hipócrita em que muitos acreditam em salvadores sem caráter.
Hora de despertar! Hora de deixar de abdicar do poder para de fato, exercê-lo. Toda nossa lamúria deve se converter em ação. Estamos sendo privados de nosso conforto, de nosso senso, de nossa voz, de nosso pensamento. E pode ser pior: podemos perder nossa liberdade. Despertem antes que seja tarde!
O Brasil deve deixar de ser o país do futuro de alguns para ser o pais do presente de todos. A Copa, creio eu, já não é mais tão importante.
Eleições Municipais: ânimos acirrados, mudanças de rumos
Hoje, 50 cidades de todo o Brasil voltaram às urnas para escolher seus prefeitos. Neste pleito, houve alguns fatos que poderão influenciar as próximas eleições gerais (estaduais e nacional), em 2014.
A primeira impressão que se tem é um acirramento dos ânimos, com a polarização da disputa entre PSDB e PT na disputa pelo eleitorado. E esta disputa chegou a um patamar de golpes na linha da cintura para baixo, com ataques de ambos os lados, baseados nos defeitos que ambos tem.
A grande questão será após a definição das penas do mensalão, pois as condenações já foram dadas. Porém não impediram que Fernando Haddad fosse eleito prefeito de São Paulo, derrotando José Serra, do PSDB. Houve um erro de escolha por parte dos tucanos, pois Serra, mesmo sendo seu importante expoente, perdeu a confiança diante de seu eleitorado, com uma alta taxa de rejeição. A estratégia de Lula de apresentar um nome novo para São Paulo, em vez de nomes já conhecidos, como o de Marta Suplicy, logrou êxito. Lula fortalece sua influência no partido e será um dos principais personagens a reerguer a reputação do PT, que ficou abalada após o mensalão, em 2005.
Ambos os partidos, tucanos e petistas, precisam alterar sua postura e suas direções se quiserem almejar projetos de governo e poder a longo prazo.
Lula cresce com a derrocada de lideranças como Zé Dirceu e Genuíno, por conta do mensalão. Do outro lado, o PSDB, que aparenta ter um comando desorganizado, pode emplacar a candidatura de Aécio Neves para o Planalto, pois com a derrota de Serra, ele sai fortalecido. FHC e Alckmin já articulam o nome de Serra para a presidência do partido.
Claro que o PT deve explorar o mensalão tucano e o do DEM nas próximas eleições, caso o STF, ao avaliar estes casos, aplique o mesmo rigor que foi aplicado aos mensaleiros do PT. Ambos os partidos estão sob o mesmo patamar, mas se os ataques se acirrarem ainda mais, o eleitor irá buscar outras alternativas.
À direita uma opção que irá surgir é a do PSD. O partido chegou forte com diversas prefeituras e elegeu prefeito em Florianópolis, já em sua primeira eleição, e tornou-se uma opção a direita, contra um decadente DEM, um PMDB sem aspirações maiores de poder, e outros partidos nanicos e sem expressão. É bem capaz de alguns pequenos partidos de direita serem engolidos pelo PSD, antes de 2014.
Já à esquerda, a única opção independente de opção ao eleitor, com ambições governistas é o PSOL. Pois ficou evidente em Belém que o intuito de alguns partidos de esquerda brasileiros é ser eternamente oposição, apenas criticando sem propor soluções para os problemas brasileiros, alinhados à sua realidade. Já entre os partidos de esquerda com aliança ao PT, o PSB se destaca e pode ser uma opção forte de esquerda nas próximas eleições.
Com efeito já temos após este pleito, um possível cenário polarizado entre PT e PSDB, mas com outros partidos que podem atuar como surpresas ou fiéis da balança nestes embates.
Na parada: política, cultura e economia
Nesta parte, a última, vou por em discussão os aspectos políticos, econômicos e culturais no meio GLBTT.
Hoje o movimento GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) está em evidência. Seja na música, teatro, teledramaturgia, cinema, televisão e política, a temática da homossexualidade deixou de ser um tabu e tornou-se um assunto em frequente discussão no Brasil. O assunto é polêmico e gera opiniões contra e a favor da homossexualidade, sendo que os grupos mais conservadores rejeitam, e os mais liberais defendem. Porém estamos diante de um debate mais franco e de uma abertura maior baseada na ética a qual a comunidade GLBTT deve se organizar de modo a não perder essa oportunidade de tornar o Brasil um país mais liberal e respeitador da diversidade sexual.
Aqui cabe uma auto-critica ao movimento GLBTT. Observa-se muito o caráter da festa da parada e dos seus dividendos econômicos, porém não procuram verter a parada em dividendos sociais, éticos e sobretudo políticos. É sabido de todos que pelo fato de um homossexual ter um grau de rejeição familiar alto, a maioria deles se tornam independentes economicamente de forma precoce. Por consequência, e também pelo fato de não constituírem famílias com dependentes incapazes, a probabilidade de um homossexual ter um poder aquisitivo maior é muito maior do que um heterossexual de mesma idade. Geralmente possuem uma escolaridade melhor e ganham mais, o que se reflete no público da parada ter uma média de gastos até 30% maior do que turistas heterossexuais, segundo a Associação Comercial de São Paulo. É tido como um nicho de mercado importante e rentável e que não pode ser ignorado. Com efeito, essa independência e individualidade precoce se tornam empecilhos para que o movimento GLBTT se fortaleça e se organize para que pleiteie seus direitos de forma mais incisiva.
Vemos figuras homossexuais de destaque em todos os meios, porém alguns não se identificam e rejeitam a sua orientação sexual publicamente por acreditarem equivocadamente que orientação sexual e masculinidade são intimamente relacionados, ou ainda, que a orientação sexual seria um empecilho para que alguém realize uma atividade qualquer, como praticar esportes, realizar esforços físicos ou trabalhar de forma pesada. Não há nenhum estudo que comprove que um homossexual esteja inapto a realizar qualquer atividade, assim como não exista nenhum estudo que inabilite uma mulher a realizar qualquer atividade. Ou seja, qualquer pessoa, não importando sua orientação sexual, tem o direito viver normalmente, e desempenhar qualquer atividade, pois a orientação sexual não desqualifica nenhum indivíduo a faze-la. Uma outra questão é que se alguém defende a causa gay é tida como homossexual, o que é uma falácia mesquinha, justamente para isolar a defesa dos direitos GLBTT aos homossexuais, enfraquecendo o movimento. Não é porque está defendendo uma causa que uma pessoa está diretamente envolvida nela. Há muitas razões para que relacionamentos homoafetivos possam ser aceitos e defendidos por muitas pessoas, homossexuais ou não. O controle da natalidade, o fim da intolerância, a melhoria das políticas de saúde sexual, a redução de batalhas jurídicas por espólio de homossexuais falecidos, o combate a homofobia, a promoção de novas células familiares, a aceitação do indivíduo junto a sociedade e o respeito a sua individualidade, a promoção da inclusão social e do respeito ao próximo seriam alguns dos valores que serão disseminados em nossa sociedade tornando-a mais pacífica, liberal e plural, com a adoção de direitos isonômicos aos homossexuais. O que é preciso é eliminar alguns vícios de nossa comunidade GLBTT como o estereótipo sexualizado que foi pinchado em muitos de nós. Precisamos combater também a auto-homofobia. É preciso que as pessoas possam se assumir sem medo de represálias, pois mais importante do que a aparência social é a auto-estima, e reprimir ou ocultar sua orientação sexual é danoso a sua própria personalidade e saúde mental.
Nossa sociedade também precisa execrar os estereótipos. As pessoas precisam entender que não existem profissões ou atividades gays ou héteros, que existem é pessoas, gays ou héteros, e que a atividade que exercem não tem nenhuma relação com a sua orientação sexual.
A mídia precisa parar com o terrorismo homofóbico na teledramaturgia e jornalismo. Infelizmente a maior emissora de televisão do país insiste em bombardear as mentes das pessoas com um discurso que coloca o homossexual como chacota. Há um seriado chamado “Macho Men” em que um homossexual se torna hétero após uma pancada na cabeça, e também uma cena da novela “Morde e Assopra” em que o personagem gay tem uma noite de sexo com uma mulher. Ninguém muda de orientação sexual de uma hora para outra, num passe de mágica. É possível que uma pessoa gay tenha uma experiência sexual com uma pessoa do sexo oposto, da mesma forma que uma pessoa heterossexual tenha uma experiência homossexual, como ocorre na adolescência de muitos jovens. Mas a insinuação da Rede Globo é sórdida. Induz o telespectador a crer que a orientação sexual é algo exclusivamente racional e voluntário de um indivíduo, mas é muito mais do que isso na realidade, gerando uma distorção dos fatos. Quando isso não ocorre, o personagem gay é estereotipado, efeminado bem distante da maioria dos homossexuais. E as lésbicas são tratadas como fetiche ainda, ou com deboche, com as personagens “Marias Sapatão”, em que são extremamente masculinizadas. Houve mudanças em alguns personagens atualmente, mostrando um lado gay mais próximo da realidade em alguns trabalhos e isto indica uma mudança de postura, mas ainda é exceção, não regra. Ainda há muito moralismo cercando a teledramaturgia da Rede Globo, sendo que cogitou-se muitas vezes cenas de beijos gay que foram até mesmo gravadas, mas cortadas pouco antes da exibição das novelas.
A política é um dos pontos mais cruciais deste processo. A eleição do deputado Jean Wyllys, o primeiro assumidamente gay a assumir uma cadeira na câmara dos deputados é um marco, porém os evangélicos já se organizaram politicamente há muito tempo e formam uma bancada que se opõe a conquista de direitos GLBTT. A organização de um braço político supra-partidário pela causa LGBTT é o primeiro passo para o estabelecimento de diretrizes impactantes que defendam essa causa. A organização deve partir da conscientização do gay, da lésbica, bissexual, travesti ou transgênero da importância em votar em representantes que atendam a suas reinvindicações. O fortalecimento das entidades de defesa GLBTT é também crucial, com uma participação mais ativa dentro do poder público para apurar e denunciar a homofobia em todos os aspectos de nossa sociedade. Somente um estado livre se forma, quando todos os cidadãos atuam de forma ostensiva em todos os movimentos sociais. Também é importante que a sociedade GLBTT fortaleça estas entidades participando ativamente de suas atividades.
A Drag Queen Tchaka disse na marcha anti-homofobia, ocorrida em São Paulo em abril que “o gay é o sal, que tempera e dá aquele gostinho bom ao mundo” e é com orgulho que vamos levantar a bandeira do arco-íris, não apenas para mostrar as suas cores, mas para temperar a Terra com amor, respeito e humanidade.
Enchendo linguiça
Na última terça, dia 03/05, ocorreu, no anfiteatro da FATEC-SP, um debate sobre as mudanças organizacionais em que o CEETEPS (Centro de Educação Tecnológica Paula Souza) estão sofrendo. A explanação do dirigente do Centro Paula Souza não passam de enchição de linguiça. A única vantagem desta mudança seria uma maior autonomia da instituição para alterar cursos, vagas, cronogramas e unidades de ensino, sem no entanto, prover autonomia financeira.
O grande questionamento feito pelos alunos, professores e funcionários foi o motivo pelo qual estes não foram consultados antes das mudanças auferidas. Todas as alterações foram feitas pelo governo estadual através da Assembleia Legislativa com a chancela do Centro Paula Souza. Esta quebra de braço entre corpo acadêmico de FATEC’s e ETEC’s e o governo paulista já tem cerca de 12 anos, entre idas e vindas, greves, protestos e projetos de lei engavetados na assembleia. A vitória governamental é mais uma derrota da classe estudantil paulista, que sofre com o descaso e a depreciação da qualidade de ensino no estado de São Paulo.
Na época em que este embate começou, eu era aluno da ETE Getúlio Vargas e senti na pele a insensibilidade governamental em relação a educação. Quando a nova LDB (lei de diretrizes e bases da educação nacional) foi aprovada, o governo estadual paulista do então governador Mário Covas instituiu uma truculenta reforma nos ensinos fundamental e médio, separando ensino técnico do regular e implantando a famigerada progressão continuada. As reformas impostas pelo governo estadual foram feitas sem nenhuma preparação ou adaptação aos professores e alunos, que foram claramente prejudicados por uma postura ditatorial e abusiva.
Consequências desses atos foram as denúncias em meados da década de 2000, por parte de pais de alunos de escolas públicas estaduais de que seus filhos mesmo estando no sexto ano do ensino fundamental, ainda não sabiam ler nem escrever e as greves dos professores do CEETEPS em 1999 e da rede estadual de ensino, nos anos seguintes, tida como política pelo governo, para acobertar a grave denúncia de sucateamento da educação pública no estado. Até hoje sofro com as consequências de uma educação deficitária na faculdade, quando tenho minha capacidade de aprendizado prejudicada e desempenho abaixo da média, pois com as reformas feitas na educação técnica naquela época, fui por muitas vezes aprovado sem saber o mínimo necessário para cursar uma boa faculdade. E este não é um caso isolado, matérias fundamentais na FATEC como cálculo e física, apresentam altos índices de reprovação, enquanto matérias como inglês e português, precisam por parte dos professores ter sua disciplina simplificada para não passar pelo mesmo problema.
O quadro e as perspectivas são preocupantes. Não apenas para a FATEC, mas para a educação paulista e brasileira. Houve um dano gravíssimo à educação e hoje estamos carentes de profissionais capacitados e competentes para trazer prosperidade a economia brasileira. O futuro é sombrio e incerto e muito do que vemos de entraves econômicos e sociais se deram por uma incapacidade política, incompetência administrativa e elitismo egoísta e estúpido, pois é a elite econômica trabalhou por séculos na manutenção do status quo, e seus efeitos nefastos ainda repercutem negativamente em nossa sociedade.
A conscientização da juventude e da nova classe média poderiam amenizar o quadro exigindo políticas que permitam um desenvolvimento social através de um ensino de qualidade e transparência na condução de políticas públicas de educação.