Preconceito: O lado sujo do futebol

Hoje vi a repercussão de uma demonstração de afeto que abriu a caixa de pandora do futebol brasileiro, como já ocorrido outras vezes. O atacante Émerson, do Corinthians, publicou uma foto a qual ele beijava um amigo. Foi um selinho, mas suficiente para provocar reações de indignação e ira por parte de torcedores corintianos. Hostilidades, pedidos de saída e mensagens homofóbicas tomaram a timeline das redes sociais.

O assunto homofobia é tido como tabu: pouco se debate, exceto na comunidade LGBT, muito se evita ou combate a intolerância, até mesmo sendo incentivada em alguns locais, entre eles, o futebol.

Em um país onde a mulher era proibida de praticar o futebol até 1983, a presença do machismo e homofobia no futebol brasileiro tornou-se elemento da cultura futebolística e reforça a tese de que há muito o que ser feito no Brasil para que o preconceito seja extirpado de nossa sociedade.

Parte da culpa disso se dá na mídia, quando ela polemiza em vez de propor uma opinião mais adequada ao respeito e à inclusão. A imprensa marrom do futebol brasileiro, para vender jornais ou arrebanhar audiência para seus programas de rádio e TV buscam defeitos em clubes e atletas, pois ganham com o distúrbio, com o caos, com a confusão, atingindo assim a notoriedade.

O futebol é um esporte popular, mas suas raízes elitistas ainda são percebidas pela figura do moralismo e do machismo. Alguém se lembra, que no início do século XX, os futebolistas negros e pardos tinham que se maquiar com pó-de-arroz para entrar em campo? Isso acabou quando surgiram grandes futebolistas negros, como Leônidas da Silva e Pelé, que mostraram que habilidade não tem relação com a cor da pele. Será que haveremos de ver algum craque futebolista assumidamente gay, para desmistificar esse incômodo preconceito?

Aliás, qual a relação existente entre habilidades pessoais e homossexualidade? Não existe nenhuma tese que comprove tal fato. Portanto, considero que qualquer insinuação que indique que um homossexual seja inapto a desempenhar qualquer atividade seja descabida, preconceituosa, e acima disso, desrespeitosa. E digo mais: qualquer demonstração de afeto não pode ser vista como conotação sexual. Foi o que aconteceu em São Paulo, nos ataques homofóbicos na Paulista, ou no interior de São Paulo, quando pai e filho foram agredidos por andarem abraçados na rua.

Vejo que as manifestações homofóbicas muitas vezes tem origem em torcidas organizadas, como o ocorrido no Palmeiras, ano passado, e agora com a camisa 12 protestando na porta do CT. Esta mais que provado que é nas torcidas organizadas que vemos encubado nas torcidas sentimentos de ódio e preconceito. Que tal acabar com elas?

Faço minhas as palavras de Emerson ao comentar as reações negativas de seu corajoso ato contra a homofobia no futebol: “Preconceito babaca”. E aproveito para concluir: preconceito é coisa de babaca.

A revolução chega às ruas: autoridades reagem

Os recentes protestos contra o aumento da tarifa de ônibus nas principais cidades do país repercutiu fortemente na mídia, redes sociais, imprensa internacional e é o principal assunto dos últimos dias. Porém é de se notar, que nestas manifestações, vemos que a repressão policial mostra uma face obscura do estado, frente a insatisfação social.

Ontem, o governo do estado de São Paulo mostrou sua face, autoritária e repressora. Segundo a maioria dos relatos, foram os policiais, e não os manifestantes, quem deram início aos confrontos. Era perfeitamente visível que os policiais da tropa de choque tinham como alvos os jornalistas e quem pudesse registrar os seus atos de atrocidade contra os manifestantes. A ação truculenta da PM paulista reflete a política equivocada do governo Alckmin em resolver os efeitos, em vez das causas, assim como toda a classe política retrógrada, que ainda governa neste país.

Impressionante mesmo é a força que as manifestações estão trazendo, levando-nos a uma preocupação que parecia solucionada, o crescente custo de vida. A política econômica do governo não está impedindo o avanço do encarecimento dos preços. E como os custos com transportes são itens que pesam no orçamento doméstico, fica evidente que o aumento da passagem traz reflexos negativos a todas as instâncias da sociedade. Tanto que as manifestações contra o aumento das passagens é um ato popular, democrático, e tem apoio da sociedade. Segundo o Datafolha, 55% dos entrevistados são a favor dos protestos.

A repressão policial exagerada se contrapõe a um protesto pacífico, em sua maioria. Há pessoas que vandalizam dentro do atos, mas não devemos encarar isso como regra e sim como exceção. Este movimento é legítimo e deve ser encarado como exemplo e inspiração a toda a população brasileira que deseja dias melhores. Esta é a hora de tomar partido, ir às ruas e transformar o país, para transformar nossa insatisfação em ação.

Eu não sou máquina

Cansei de ver meu suor gerado em vão. Cansei de ver meus companheiros de trabalho agonizando, doentes, em um silencioso sofrimento. Vejo neles o cansaço, o desânimo, o tabagismo, o alcoolismo, a obesidade, a baixa auto-estima, o mal humor, o tédio, a depressão, o desatino, o pessimismo, o erro. Vejo neles não a doença, mas o sintoma coletivo de um sistema doente, que precisa de pessoas sendo oprimidamente vencidas para que hajam vencedores sem mérito algum.
Ainda está para nascer um líder que não seja borra-botas, garoto de recado, que busque conhecer seus leais seguidores a ponto de defendê-los contra seus pares e superiores, que trabalhe sua liderança com honra e humildade, pois se considera um simples representante de sua equipe.
Cansei de ver os decanos retrógrados, que a todo custo tentam manter suas teorias estritas em jornais amarelados, desgastados com o tempo, impondo velhas soluções a novos problemas. Estes decanos sonharam um dia com a modernidade e com o acesso à informação em tempo real, e hoje tendo estes recursos à mão jogam fora, como coisas superfluas, achando o necessário inútil e o inútil necessário.
Chega de velhos teoremas! Chega de nos reduzirmos a peças descartáveis e substituíveis, comparados a máquinas sem valor! Chega de nos impor uma carga sobre-humana, como se a perfeição deixasse de ser uma virtude, mas uma obrigação! Chega de só funcionar e basta! Chega de colocar a responsabilidade nas costas alheias, quando esta é de fato sua! Chega de narcisismo gerencial! Chega de palavras vazias, meio-termos, e inação! Chega de punir inocentes para dar exemplo! Chega de proteger a mal-caratice por conveniência! Chega de injustiça, do conformismo, do individualismo, do materialismo e da desumanidade! Chega de omissão e conivência! Precisamos dar um basta a tudo isso, por questão de sobrevivência!
Ninguém é uma ilha! Ninguém se faz sozinho, nem merece ter toda culpa ou mérito sozinho, da mesma forma que não devemos fugir do ônus de pertencer a un grupo social. Se um grupo onde estou venceu, eu venci também, assim como se este mesmo grupo sofre um percausto, a falha também deve ser assumida por todos. Não devemos nos abdicar daquilo que é nosso! Juntos somos mais poderosos que qualquer poder opressor, e os opressores sabem disso, e por isso valorizam o valor individual ao esforço coletivo.
O momento é propício de quebra de paradigmas, de revisão de conceitos e de mudanças. As velhas regras já não nos servem, tais como sandalias velhas infantis em pés adultos. O velho mundo precisa ceder lugar a um novo mundo, onde o homem pode entender a si mesmo por meio do próximo. O novo vai nascer! E o homem voltará a ser humano.

Feliciano e os “pais de família”

Hoje fui surpreendido por mais uma declaração infeliz do charlat…, quer dizer, pastor e deputado Marco Feliciano, alvo de protestos contra sua permanência na presidência da Comissão de Direitos Humanos da câmara dos deputados. Segundo o próprio, não existem pais de família ali nos protestos. O intuito da declaração, proferida no programa do Ratinho no SBT, é de claramente colocar os manifestantes contra a opinião pública, taxando-os de alienados e desocupados.
Mas se a família é tida como a unidade nuclear de toda a sociedade, Feliciano, além de lançar uma declaração altamente infeliz e preconceituosa, mostra claramente sua opinião retrógrada sobre o conceito de família.
Casais sem filhos, pessoas que moram sozinhas, pessoas solteiras com filhos, casais homossexuais também são famílias, Feliciano! E todas elas estavam defendendo o direito de serem reconhecidas como famílias em um estado que é tido como laico. Você tem todo o direito de discordar desses novos conceitos de família, mas tem a obrigação de respeitar essas pessoas, pois o senhor não representa apenas os seus fieis, mas todo o povo brasileiro, lembre-se disso! E portanto, suas opiniões não devem estar acima dos anseios do povo, pois em um regime de eleição como o nosso, o senhor não representa apenas os fieis que votaram no senhor, mas numa parcela muito maior da sociedade que espera do político um servo do povo e não um servo de si mesmo.
Pelo bem do povo brasileiro, fora Feliciano! Não é possível que em 2013 ainda exista o facismo troglodita, travestido de moral religiosa.

Tatcher: a controversia da dama de ferro

Caros amigos,

Com a morte de Margareth Tatcher ontem, pude ver pelos comentários nas redes sociais uma grande polêmica. Os formadores de opinião de direita a chamam de grande estadista, onde conseguiu em 11 anos à frente do governo britânico vencer a inflação e com medidas de austeridade colocar a economia de lá nos eixos. Para os de esquerda, porém, Tatcher foi autoritária, usou de medidas impopulares, cerceou a manifestação sindical, foi privatista, usou de artifícios, como a Guerra das Malvinas para reverter sua impopularidade.

De fato, é polêmico falar sobre a então única mulher primeira-ministra da Inglaterra. Mas ao deixar o poder, em 1990, manifestou claramente sua oposição à criação da União Europeia. E hoje, com a crise econômica que assusta o velho continente, irão surgir pessoas que questionariam se ela não estaria com a razão ao se opor ao bloco.

Talvez nem ela nem os defensores da UE estariam certos realmente. Talvez fosse importante criar um bloco, mas com bases sólidas, tanto no aspecto político quanto econômico, o que não pudemos ver realmente ao vermos as disparidades políticas e econômicas de seus países-membros e o trato que o bloco tem dado à crise. O caso do confisco do Chipre é um notável exemplo de desigualdades políticas nas medidas econômicas adotadas pelo bloco, onde Grécia, Espanha, Portugal e Itália vem sendo tratadas em suas crises de forma branda e complacente, e mesmo assim, tem uma grande oposição as medidas por parte da população que tendo brandas ou amargas ações, é quem está pagando um preço caro por uma política regional mal formulada.

Ainda há espaço para muitas discussões e a oposição que Margareth fez lembrar vai ressussitar as discussões a favor da dissolução do bloco europeu, um problema e tanto.

Não estamos prontos (e nem estaremos)

Falta pouco para a Copa. Mas falta muito para ficarmos prontos. Aeroportos, estradas, ferrovias, trens-bala, metrô, estádios, tudo prometido. Nada ficará pronto como se espera, nada ficará para o futuro além de elefantes brancos, puxadinhos, gambiarras e projetos que jamais sairão do papel.
O Brasil não tem capacidade de gerir, pois os que gerem não tem competência em agir, exceto se for em causa própria. Estamos eternamente deitados em berço esplêndido, aguardando dos céus um Messias que faça as coisas.
Não obstante vemos muitos malandros se dizendo os salvadores da pátria, prometendo em troca de votos, dízimo e silêncio um Paraíso, quando se tem somente promessas e discórdia, incitações de ódio e mentiras, em um jogo hipócrita em que muitos acreditam em salvadores sem caráter.
Hora de despertar! Hora de deixar de abdicar do poder para de fato, exercê-lo. Toda nossa lamúria deve se converter em ação. Estamos sendo privados de nosso conforto, de nosso senso, de nossa voz, de nosso pensamento. E pode ser pior: podemos perder nossa liberdade. Despertem antes que seja tarde!
O Brasil deve deixar de ser o país do futuro de alguns para ser o pais do presente de todos. A Copa, creio eu, já não é mais tão importante.

Divagações sobre o amor

O ato de amar é ver a nós mesmos em outro, de forma a este outro se tornar parte de si mesmo. É a auto-perceção no próximo, espelhada na alma e no sentimento. Quando esse amor é correspondido, deixam de existir dois seres, estes passam a coexistir como um todo formado por duas partes complementares. Quando é platônico, apenas um dos seres tenta, em vão, complementar o outro até que este amor termina, ou se torna uma obsessão patológica. Esta obsessão é um sentimento ilusório que aquele o qual sente acredita ser amor, mas não é.
Assim, de uma forma ou de outra, nos iludimos. O amor é tão abstrato que se confunde com possessão, atração, carência, afeição, pena… Deixa de ser complementar e se torna repulsivo, violento. Deixa de ser algo que complementa, para ser ponto de conflito, em que uma das partes busca abstrair da outra os empecilhos que os impedem de, harmoniosamente, se combinar.
A ilusão é inerente ao homem. Pois é o erro de sua perceção movido por seus preconceitos sentimentais e racionais. Por isso devemos aprender com os erros e as ilusões, pois corrigem nossos conceitos. E estes conceitos são conclusões transitórias, pois mudam no tempo, no espaço e no indivíduo. Aprendendo a conviver com os conceitos, desenvolvemos nossos valores que alimentam nosso caráter, e este compilado que é entendido e defendido por nós, pois devemos crer em nossos valores, designam nossa auto-estima.
Como a auto-estima é a crença nos valores que formam nosso caráter, e estes valores se formam para nós através de conceitos que, por sua vez, são obtidos por meio da experiência da interação com outros seres, podemos afirmar que o homem só é completo quando tem o amor.
E este amor é algo que vem do âmago do ser vivente, quando este entende a si mesmo e se identifica em outro ser.

A última balada

A festa parecia animada. Todos pareciam felizes. Mas o que se sucedeu naquela noite de domingo, mudaria para sempre muitas vidas.
Seria essa a última balada, de tom tenebroso, cinzento, fatal. Gritos, lágrimas, dor e desespero na última balada de suas vidas. Última e derradeira noite de suas vidas. O fogo abrasou suas vidas, levando conosco um pouco das nossas. Um terrível espetáculo dantesco, captados por celulares, câmeras de TV e mostrados para os olhos do mundo, tirando de nós a alegria que os domingos costumam trazer. Celulares que intactos, insensíveis, subliminarmente anunciavam a seus entes queridos o fim. As insistentes chamadas queriam uma prova, um sinal de vida, em vão. A dor da perda em filas intermináveis, em hospitais, no ginásio, em busca de um fio de esperança se estinguiram na face desfalecida de um ente querido entre as vítimas imoladas no desastre. Uma dor que deixou de ser deles nem minha, mas nossa, pois essa dor que os punge é tão colossal que não seria digno carregar isso sozinhas.
Isso nos nostra como somos frágeis, indefesos, diante de nosso destino. Nossas vidas são como uma imensa árvore cheia de folhas, sendo que cada uma delas é uma vida nossa. Há períodos de tempestades em que muitas dessas folhas são levadas embora, de uma vez. Novas folhas poderiam surgir, mas nada poderia trazer de volta as fohas que se foram. Mas o que nos desola é ver folhas muito novas serem arrancadas da árvore da vida sem nos avisar, sem nos fazer entender o porquê desse fim tão precoce. Isso não deve ser justo, é inexplicável, e também imponderável. É o amém que relutamos em dizer, mas infelizmente a vida diz.
Este seria os espetáculo mais triste do mundo se não fosse um outro ocorrido em um circo em Niterói, há cerca de 50 anos. Faz-se lembrar o vocalista da banda ao funcionário do circo, a lona com a espuma da boate, a elefanta com os seguranças, e as crianças… eram apenas crianças, lá e cá, com seus sonhos e seus futuros reduzidos a cinzas. Agora no lugar do futuro, ficou a ausência, no lugar do sonho, o desatino, no lugar da presença, ficou a lembrança e no lugar da vida, a saudade.
Como é triste ver a lógica da vida ser invertida: vemos em vez dos filhos enterrarem os pais, os pais enterrando os filhos.

(inspirado na tragédia de Santa Maria, Rio Grande do sul, Brasil)

A república do Avatar

Muito observo na sociedade em geral, nas redes sociais, no trabalho, nos estudos, locais e eventos públicos o comportamento humano e o que influencia tal comportamento. E percebo, com certa resignação, uma aparente superficialidade das pessoas, criando “avatares” delas mesmas, de acordo com a ocasião. Chega a ser paradoxal tais mudanças de comportamento, pois uma das necessidades humanas consiste na aceitação por seus semelhantes. Fica claro que pelas exigências de cada grupo social para ser aceito, um indivíduo precisa se adaptar a essas exigências, mudando sua forma de agir, de vestir, de se comportar, de se expressar e de opinar, para se adequar a essas exigências, e enfim, ser aceito.

Isso funciona como um código, uma senha, uma identidade social, que identifica e associa esse indivíduo a esse grupo. Porém, a necessidade de ser aceito, aliada ao formalismo de uma sociedade que se encontra em uma situação de crise de identidade, por conta de se basear em valores que não são fundamentais, em contraponto a valores que eram tidos como fundamentais e não mais o são, nos impõem uma controversa atitude de “dançar conforme a música” e criar avatares de nós mesmos.

Em empresas tradicionais, faculdades, igrejas, eventos esportivos, grupos de interesses comuns e redes sociais é evidente a multiplexação do caráter de um indivíduo. Para cada local e cada situação, vejo uma mesma pessoa se comportar e até mesmo opinar de uma forma diferente. Vejo pessoas buscando se adaptar a grupos sociais fraudando seu caráter para que esse conceito fictício possa ser aceito nesse grupo. E este é o maior mal do homem, quando vê que a trapaça logra êxito, pois este toma esse procedimento como uma solução oportuna, e passa a adotá-la sistematicamente para ser incluso em outros grupos. Os casos mais críticos são quando esses indivíduos abandonam por completo seu real caráter para dar vida a seus avatares. Por todos esses avatares serem conceitos fictícios e artificiais, seu real conceito se perde, assim como seus valores, fazendo com que esse indivíduo se perca em valores superficiais ou passe a ser um ser alienado, alheio a toda ou boa parte da realidade que o circunda.

Não há como, em um modelo capitalista e consumista, combater ao viciante e perverso comportamento de avatar. Pois a mídia, entidades tradicionais como a igreja, grandes corporações e governos nos fazem engolir seus conceitos, forçando-nos a ser o que eles querem, e não o que realmente somos. Parece ser difícil conciliar este dilema, mas é preciso resistir a criar um avatar, buscando ser nós mesmos em todas as ocasiões, mesmo que se contestem nosso comportamento. O fato é que nossa essência seja preservada, ou estaremos fadados a deixá-la escondida em nossos lares, ou perdida em nossas memórias.

A última alvorada de 2012

31 de dezembro, três da manhã. Ponho-me a escrever. Paro. Penso. Começo a puxar pela memória os outros 365 dias de 2012. Dias de luz, dias de penumbra. Dias de ação, de reação, ou de inação. Dias para esquecer, para lembrar para sempre. Dias em que cresci, e dias que lembrei que precisava crescer. Todos os dias e todas as noites vivemos, mesmo sem perceber. E por ser hoje o último dia de nossas vidas em 2012, convido ao nobre leitor a refletir em todas as direções: o que ficou pra trás (passado), o que está ao seu lado (presente) e o que está a sua frente (futuro).

Recolha do que ficou pra trás aquilo que lhe trouxe sabedoria: as lembranças e as lições de vida lhe serão muito úteis para o que está por vir e você vai precisar deles. Ao seu lado está seus valores, seu caráter e as pessoas que o rodeiam, pois serão excelentes conselheiros e indicarão o caminho e a forma a imprimir seus passos. E à frente existem as oportunidades, os desafios e a incerteza, pois o acaso sempre se faz presente e devemos estar preparados para ele.

Construa, aos poucos, seu destino, não tenha pressa. Uma edificação firme começa por bons alicerces em terreno bem escolhido. Por isso, avaliar seu passado, observar o presente e antever o futuro são os melhores conselhos que alguém possa receber no ano que começa, onde as esperanças se renovam.

Abra a janela, deixe o sol entrar! Seja bem-vindo, 2013!

Eleições Municipais: ânimos acirrados, mudanças de rumos

Hoje, 50 cidades de todo o Brasil voltaram às urnas para escolher seus prefeitos. Neste pleito, houve alguns fatos que poderão influenciar as próximas eleições gerais (estaduais e nacional), em 2014.

A primeira impressão que se tem é um acirramento dos ânimos, com a polarização da disputa entre PSDB e PT na disputa pelo eleitorado. E esta disputa chegou a um patamar de golpes na linha da cintura para baixo, com ataques de ambos os lados, baseados nos defeitos que ambos tem.

A grande questão será após a definição das penas do mensalão, pois as condenações já foram dadas. Porém não impediram que Fernando Haddad fosse eleito prefeito de São Paulo, derrotando José Serra, do PSDB. Houve um erro de escolha por parte dos tucanos, pois Serra, mesmo sendo seu importante expoente, perdeu a confiança diante de seu eleitorado, com uma alta taxa de rejeição. A estratégia de Lula de apresentar um nome novo para São Paulo, em vez de nomes já conhecidos, como o de Marta Suplicy, logrou êxito. Lula fortalece sua influência no partido e será um dos principais personagens a reerguer a reputação do PT, que ficou abalada após o mensalão, em 2005.

Ambos os partidos, tucanos e petistas, precisam alterar sua postura e suas direções se quiserem almejar projetos de governo e poder a longo prazo.

Lula cresce com a derrocada de lideranças como Zé Dirceu e Genuíno, por conta do mensalão. Do outro lado, o PSDB, que aparenta ter um comando desorganizado, pode emplacar a candidatura de Aécio Neves para o Planalto, pois com a derrota de Serra, ele sai fortalecido. FHC e Alckmin já articulam o nome de Serra para a presidência do partido.

Claro que o PT deve explorar o mensalão tucano e o do DEM nas próximas eleições, caso o STF, ao avaliar estes casos, aplique o mesmo rigor que foi aplicado aos mensaleiros do PT. Ambos os partidos estão sob o mesmo patamar, mas se os ataques se acirrarem ainda mais, o eleitor irá buscar outras alternativas.

À direita uma opção que irá surgir é a do PSD. O partido chegou forte com diversas prefeituras e elegeu prefeito em Florianópolis, já em sua primeira eleição, e tornou-se uma opção a direita, contra um decadente DEM, um PMDB sem aspirações maiores de poder, e outros partidos nanicos e sem expressão. É bem capaz de alguns pequenos partidos de direita serem engolidos pelo PSD, antes de 2014.

Já à esquerda, a única opção independente de opção ao eleitor, com ambições governistas é o PSOL. Pois ficou evidente em Belém que o intuito de alguns partidos de esquerda brasileiros é ser eternamente oposição, apenas criticando sem propor soluções para os problemas brasileiros, alinhados à sua realidade. Já entre os partidos de esquerda com aliança ao PT, o PSB se destaca e pode ser uma opção forte de esquerda nas próximas eleições.

Com efeito já temos após este pleito, um possível cenário polarizado entre PT e PSDB, mas com outros partidos que podem atuar como surpresas ou fiéis da balança nestes embates.

O sábio e o tolo: convivendo com a diferença

Hoje é 17 de maio de 2012: dia mundial de luta contra a homofobia. É um dia diferente dos demais pois ajuda a nos mostrar a grande tolice humana em rejeitar quem é diferente. A pessoa homossexual é idêntica às demais podendo ambas terem as mesmas probabilidades de caráter e habilidades, inexistindo portanto, nenhuma razão para desqualificar uma pessoa homossexual sob seu aspecto humano. As manifestações de ódio à comunidade gay não possuem justificativas plausíveis e embasadas em provas que confirmem a homossexualidade como uma ameaça à sociedade e à raça humana, sendo portanto vítimas de padrões sociais inadequados à nossa realidade, marginalizados por doutrinas obsoletas e demonizados por algumas organizações religiosas com o intuito de atrair fiéis a suas seitas.

Nosso país atravessa um momento delicado, pois vê-se uma sucessão de retrocessos promovidos por políticos oriundos da bancada evangélica para instituir no país uma teocracia cristã. E estes senhores instituiram a comunidade gay como seus maiores inimigos. Além de se opor claramente a leis e programas governamentais contra a homofobia, ainda tentam atribuir aos homossexuais o rótulo de pedófilos e estupradores, com o intuito de marginalizá-los. Enquanto isso, gays, lésbicas, travestis e transgêneros são agredidos, assassinados e tem seus direitos usurpados por uma sociedade e um estado que deveria ser laicos e de direito, mas que acabou sendo um estado de interesses. Um país como o Brasil, que viveu por 21 anos, sob a sombra obscura do cerceamento da liberdade por conta da ditadura, não pode trocar sua liberdade recém-adquirida por nada, sequer por uma promessa de salvação divina. E o processo de alienação é tamanho que se não houver o combate a esse facismo teocrático, as liberdades e direitos individuais estarão ameaçados.

E um Homem livre é também feliz e criativo, ser de suma importância para contribuir positivamente em nossa sociedade. Todo homem que compreende e respeita as diferenças que dele o circundam, é uma pessoa sábia. Tolice é achar, mesquinhamente, que as suas visões e entendimentos de mundo devem ser impostos aos demais. Ter um entendimento e um juízo de valores e crenças é um direito que todos nós temos e o praticamos, mesmo que involuntariamente por meio da opinião. Mas não é direito de ninguém impor a outro ser humano suas filosofias, exceto pelo convencimento voluntário deste. E mesmo que não haja este convencimento, a pessoa que possui outra filosofia deve ter seu juízo de valores respeitado, sem ser discriminado ou marginalizado de forma alguma. Isto está implícito na declaração dos direitos humanos e até mesmo nos mais notáveis fundamentos cristãos, os quais estes grupos rasgam e agridem para defender seus interesses expansionistas.

Lutar contra a intolerância é nossa bandeira de luta neste dia contra a homofobia, representação máxima do mal que um ser humano causa a outro.

A FATEC precisa de nós

Nesta última segunda, 09/04, nós, alunos da FATEC, juntamente com funcionários, alunos da ETEC São Paulo e professores, organizamos o abraço simbólico no edifício Paula Sousa. Este prédio seria doado à FIA, uma instituição privada, para a instalação de um museu, quando o próprio Campus da FATEC está com défice de instalações para os alunos estudarem. Esta medida é mais um duro golpe do governo do estado de São Paulo contra a educação pública de qualidade.
Já vimos o sucateamento e o aparelhamento político das FATEC’s em todo o estado. São 52 unidades da FATEC, que apresentam variações bruscas de qualidade de ensino. A canetada que permitiu isso foi o desvínculo da FATEC com a UNESP. A “maior autonomia” que o Centro Paula Souza tanto comemorou, é na prática o fim da imposição de normas acadêmicas, que garantiriam um ensino técnico e tecnológico de qualidade, da escolha dos professores, à instalação das unidades. O uso político da implantação de FATEC’s fica ainda mais evidente quando vemos a nomeação de apadrinhados políticos de partidos leais ao governo paulista, e quando vemos a instalação de unidades sem nenhum tipo de estrutura física, acadêmica e pedagógica mínimas para operar.
E para piorar, querem reduzir a distância de qualidade dos cursos da FATEC de São Paulo com as demais, cortando disciplinas, quando a ação deveria ser oposta: reduzindo essa distância, com melhorias nos cursos, para que os alunos de todas as unidades tenham um padrão de qualidade superior.
Dia 23/04 será mais um dia de protestos na FATEC de São Paulo (metrô Tiradentes) e a participação de toda a comunidade fatecana em todo estado é fundamental para lutarmos pela qualidade de ensino nos cursos técnicos e tecnológicos. Ainda serão deliberados os atos que ocorrerão e em breve saberão quais são estes. Mas a manutenção do edifício Paula Souza é um primeiro recado ao governo do estado de que com educação não se brinca, nem se mexe.

Batalhas de fé

Vejo, por muitas vezes, no facebook, episódios de uma interminável e efusiva discussão entre ateus exaltados e evangélicos fanáticos a respeito da religião. Sou católico, porém crítico de uma fé alienada e estúpida que vejo em muitos locais e também da generalização igualmente estúpida que muitos ateus assim o fazem.

Sempre acreditei que o Homem, enquanto espécie, é capaz de elucidar questões a respeito de suas origens, de suas capacidades, de suas naturezas e de sua convivência em sociedade. A pluralidade da espécie humana é o elemento fundamental e decisivo para a sua evolução diante de outras espécies, pois torna o seu ambiente muito mais dinâmico e disputado, de modo a sempre haver, usando de princípios racionais e naturais de sua espécie, a adaptação a este ambiente. As religiões surgiram como forma de justificar um padrão moral e social, de modo que este padrão se tornasse crível e aceito por seus integrantes. Este padrão é dotado de regras definidas em consonância com normas morais já estabelecidas, convencionadas por grupos econômica e politicamente dominantes, porém atribuídos a divindades, como forma de isentá-los de possíveis responsabilidades.

Fica claro, que quem tem o contrôle sobre a cultura religiosa, tem poder. Fica evidente também que persuadir as pessoas a agir de acordo com uma doutrina de recompensa, mediante cega lealdade, é amplamente vantajoso para quem tem esse contrôle. Pois é parte da fisiologia humana se sacrificar em troca de algo que o recompense. E esta natureza da troca é bastante explorada por alguns grupos religiosos, que mantém uma legião de fiéis, cuja lealdade é tão fanática e cega, que deixam de viver suas vidas para viver uma alienação.

Viver uma religião de maneira crítica e racional é perfeitamente possível, mas tiraria dos líderes religiosos o poder e a influência sobre seus fiéis. Por isso, corrompem doutrinas, criam preconceitos, implantam moralismos, inventam inimigos fictícios, para que se crie uma “zona de perigo” em torno deles, das quais os fiéis não podem escapar, estando eles subjugados a seus interesses e vontades.

E neste cenário surge a figura do fanático. Este, desprovido de senso crítico, característica esta inibida por uma doutrinação cultural contínua de destruição deste senso, ou ainda por uma capacidade intelectual reduzida, torna-se um personagem importante para a barbarização da fé, tornando-o também uma espécie de soldado que defende, ataca e contradiz os próprios princípios religiosos que alega defender. Importante salientar que apenas uma pequena parcela dos que possuem uma crença religiosa são, de fato, fanáticos. Mas a influência em uma comunidade religiosa quando este fanático é o líder, pode ser desastrosa. O caso da seita de Jin Jones poderia ser citado como exemplo de um líder fanático que levou sua seita a um ritual de suicídio coletivo, em 1978.

Mas geralmente, o líder religioso não é fanático, mas sorrateiramente passa essa impressão a seus seguidores, pois esta crença deve aparecer crível para aqueles que o seguem. Isto pode ser notado nas explanações carregadas de hesitação e emoções melancólicas, de forma teatral, como se a afirmação da fé fosse um show, um espetáculo dramático. E o fanático, não apenas endossa esse discurso, como também o reproduz em palavras e ações que o justifiquem.

Em suma, o que parecia ser um remédio para civilizar sociedades antigas, passou a ser um veneno para uma sociedade de paz, hoje. A religião teve seu papel histórico de grande influência, permitindo o surgimento e a expansão de grandes sociedades humanas que hoje coabitam o planeta, e possuem o domínio político, cultural e econômico. Entretanto, ainda se insiste em existir a ideia da cultura dominante e de sobrevivência, para promover uma princípio de igualdade imposta, sem nenhuma preocupação com as individualidades das pessoas. Esta característica é excludente e agressiva, não alinhada a princípios humanos pacíficos.

Surgiram movimentos laicos e ateus que estão se contrapondo aos movimentos religiosos fundamentalistas. Porém estes movimentos repetem os mesmos erros dos fundamentalistas, procurando de forma agressiva e até mesmo ofensiva, promover o ateísmo e demonizar a religião. Costumam relacionar personagens torpes de nossa história, como Adolf Hitler, ao cristianismo e querem mostrar o lado negro da religião sobre os mais diversos aspectos, de forma generalizada. As falhas do passado e o uso da religião como ferramenta de obtenção de poder contribuem para que os fatos apresentados sejam tido como verídicos, mas é preciso estabelecer uma conduta mais aberta ao apoio do que a rejeição. A reação dos fanáticos é um forte indício de que as ações dos ateus e laicos está produzindo repercussão, mas não é pertinente o rebaixamento a um mesmo nível de intolerância.

Uma grande falha da humanidade é entender que, por todos os seres humanos serem semelhantes sob o ponto de vista físico e fisiológico, deve-se promover uma imposição total e incondicional de igualdade de atitudes e filosofias, para que se estabeleça uma relação de igualdade. O ser humano é o único ser vivo que distingue e rejeita seus semelhantes por condições alheias a suas capacidades e características físicas e fisiológicas. Quando o Homem aprender a tratar como igual, seu semelhante, sem observar qual sua orientação política, social, sexual, cultural ou acadêmica, estaremos estabelecendo uma nova sociedade onde todos terão oportunidades e onde todos terão a plena consciência de uma cultura pacífica e de unidade. Uma sociedade de fato e de direito.

Geração perdida

Hoje, ao ir para a faculdade, pude perceber o sentido da famigerada alcunha de geração perdida a que somos chamados. Fiz uma prova de programação lógico-aritmética e foi um desastre, assim como todas as provas que fiz da área da matemática. Ao sair da prova, porém, percebi algo totalmente lógico que culminou neste desastre: a falta de conteúdo básico aliado ao desinteresse. Vejamos bem, como uma pessoa inteligente e capaz como cada um de nós somos, pode em sua sã consciência querer saber fazer sem ter um aprendizado básico adequado? Isto desestimula e compromete nosso desempenho de aprendizado. É como se faltasse algo, se tivesse pulado do ensino fundamental direto para a faculdade. Um vácuo que prejudicou milhares de jovens desde a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1998, para agradar a interesses de instituições de ensino privado e a governos estaduais, como o de São Paulo, que desejavam flexibilizar a lei para implantar um perverso sistema educacional formador de analfabetos funcionais. Todas as métricas de desempenho da educação nacional, nas quais as suas estratégias se baseiam, não traduzem adequadamente a realidade educacional brasileira. Pois esta está embasada em uma filosofia que privilegia a quantidade em vez da qualidade, já que objetiva apenas a formação de mão-de-obra em vez de cidadãos.
A formação intelectual possibilita a uma sociedade desenvolver seu senso crítico e criativo, tornando-o um agente ativo de transformação. Quando esta formação é deficiente, o cidadão não dispõe de recursos para se contrapor ao que o prejudica, ou apoiar o que o beneficia, ou ter julgamento diante de qualquer questão. Sem conhecimento, uma sociedade se torna presa fácil de manipuladores, tanto políticos, religiosos ou ideológicos, e no Brasil, são estes manipuladores são os que estão no poder. Para manter seu status quo, eles atacam impiedosamente a educação, única arma que o povo teria para se defender.
Estamos diante de mais um movimento do governo do estado de São Paulo para sucatear nossa educação. A FATEC de São Paulo sofrerá uma reformulação de diversos cursos com cortes de disciplinas da área da matemática. O objetivo principal seria nivelar os cursos da FATEC de São Paulo com as demais FATEC’s do estado. Fica evidente que isto significa nivelar por baixo e nota-se que este também é um reflexo do sucateamento da educação como um todo, pois a maioria dos alunos tem algum tipo de dificuldade em sala de aula. Fica claro o problema de encaixe: o aluno não recebeu a preparação devida para cursar uma faculdade, onde o professor não dispõe de tempo, nem alçada para corrigir esse problema de encaixe.
Observo que a cada ano, o nível de conhecimento do jovem brasileiro vem caindo a patamares preocupantes, e lutar contra esse movimento de tornar nosso povo ignorante, é uma causa que, capitaneada pela sociedade acadêmica e estudantil, pode ser abraçada por toda a sociedade brasileira.

Quem votou em Geraldo Alckmin?

É nessas horas que me pergunto qual a pessoa, em sã consciência, votaria no PSDB, se pudessem prever o futuro, há dois anos atrás.
Já vi muita coisa na vida e pior que o que fazem na Cracolândia ou que fizeram com Pinheirinho, só o Massacre do Carandiru, em 1992.
O tratamento dado a essa gente humilde e sofrida é de embrulhar o estômago. Tratam-nos como se não fossem gente, como se fossem animais, bandidos ou zumbis de Resident Evil. Não como pessoas, não como iguais. Preferem tratá-las de forma truculenta e covarde.
Vejam a forma de educar dos tucanos, pela dor, não pelo amor. Lei anti-fumo, lei seca, lei da sacolinha… Acho que é preciso haver lei,mas antes é preciso educar. Pelo que vejo com a situação de abandono de nossas escolas, ETEC’s, FATEC’s e Universidades, é mais fácil ser facista que didático.
Nunca vi uma situação em que o governo estadual paulista cravou uma sequência de medidas tão infelizes. Típicas de quem quer revelar a verdadeira face, após ter a confiança alcançada. Isso é mais que traição, é um atentado covarde ao povo paulista, uma  afronta à democracia.
Vejam o caso do Pinheirinho. Naji Narras é um mega-especulador e uma raposa velha do sistema financeiro, que é o cenário defendido pelo neo-liberalismo econômico, que por sua vez, é defendido pelo PSDB cujos membros deste são os senhores governador de estado e prefeito de São José dos Campos, que unidos escurraçaram os moradores do Pinheirinho em favor da massa falida da empresa de… Naji Narras! É um círculo vicioso que beneficia poucos para o sofrimento de muitos. Isto é ou não é injusto?
É a mesma injustiça que trata as vítimas do crack como bandidos na cracolândia. É a mesma injustiça que faz você pagar por uma sacolinha que era de graça, sendo que o custo operacional das sacolinhas é imbutido no preço dos produtos que lá compramos. E reduzir os preços esses mercados não fazem!
Vamos parar pra pensar: eu não estou aqui pra dizer o que você deve fazer com o seu voto, isso é problema seu. Mas que é preciso votar com consciência é seu dever. E se você votou neles, você é responsável também por isso, pois eu não votei nessa gente e nem pretendo.

Um papo com a consciência

– Boa noite, amigo!
– Boa noite, como está?
– Vou indo, e você?
– Pareço em paz, mas o senhor parece não estar.
– Você deve ter notado. Tudo para mim parece tão confuso…
– Eu sei disso. Sei de tudo, não precisa dizer. Afinal, somos praticamente íntimos. Penso o tempo todo, e você age, às vezes, sem me consultar.
– Você sabe que sou assim impulsivo, mas você me entende, né?
– Eu compreendo, meu caro amigo. Sou sua consciência, e mesmo você agindo eu reflito o seu ato para que, se errado, não mais o cometa. Isto faz parte do meu ofício, meu caro, e sei que orgulhas do meu trabalho.
– Eu adoro você, consciência. Mas tem momentos que não dá para viver em harmonia contigo. Veja o que me aconteceu. Eu escrevi palavras fortes e sinceras e veja o que aconteceu…
– Eu sei disso, mas é impossível em um mundo tão diverso de ideias ser unanimidade. Tu não cansas de parafrasear Nelson Rodrigues ao dizer que “Toda Unanimidade é Burra”? Não é possível agradar a gregos e troianos, meu filho! Por mais que tente ser uma “Unanimidade Inteligente”, sempre haverá alguém que que irá contesta-la por mais diversos motivos.
– Entendo, mas acho que não é pelo que dizem que fui criticado, mas pelo que sou.
– Muitos de nós temos que assumir a responsabilidade por nossas escolhas, e também pelas posições que almejamos e conquistamos. É possível que o machuquem pelo respaldo e audiência que conquistou. Mas também é possível que a leitura que você fez da realidade não é aquela que eles leem. Não podemos questionar a sabedoria ou ignorância de alguém, apenas podemos contesta-la. Pois cada um de nós adquiriu um conhecimento de algum assunto de uma forma única e pessoal e esta não pode ser questionada por quem quer que seja. Este é um dos maiores erros das pessoas: julgar os atos das pessoas sob sua visão, sem entender como essa pessoa entendeu um fato para agir dessa forma.
– Então, eu estaria errado?
– Não exatamente… Neste caso não havia como considerar certo ou errado e sim, apropriado ou inapropriado. Veja outras pessoas que leram seu texto. A maioria delas concordou com suas palavras, somente estas que não. Vejam a variedade de pessoas que aprovaram e as que rejeitaram suas palavras.
– Todas as que me rejeitaram tinham ideias comuns.
– Conclui-se que para estas pessoas, suas palavras foram inadequadas.
– Pois é. Mas me perdoe, acho que estas não leram minhas ideias da forma como deveriam.
– Mas a leram da forma como elas entenderam, de acordo com os conhecimentos que tem do mundo.
– Acho que são alienadas. Não percebem os problemas que cercam nosso país achando que é apenas luta de classes e politicagem…
– Talvez não seja. Talvez tenham conhecimento teórico e filosófico e o questionam pois o seu conhecimento é prático e empírico.
– Pode ser, mas eles não estariam errados também?
– Se estiverem fundamentados apenas em teorias, sim.
– Acho que as pessoas poderiam ser um pouco mais inteligentes, como disse o Carlos Nascimento no jornal.
– Pode ser, se não perdessem tempo com futilidades como Big Brother e Luiza no Canadá…
– E o Pinheirinho? Fico puto da vida quando milhares de pessoas defendem cães e gatos contra maus-tratos na Paulista enquanto em São José dos Campos centenas de famílias são escorraçadas como se fossem vira-latas…
– Você tem um coração bom, mas muitos dos que protestaram contra maus-tratos contra animais não sabiam o que se passava no Pinheirinho.
– Não sabiam pois a mídia se omite! Não li uma palavra boa que seja sobre o Pinheirinho. Só vi meias verdades e ataques políticos.
– Mas não seria melhor se as pessoas pudessem mostrar toda a verdade que a mídia esconde? As mídias sociais estão aqui para isso…
– Verdade! É hora de escrever sobre isso…
– Mas aqui o senhor não falou tudo?
– Talvez… Talvez…

Que seja o primeiro e único

Juro por Deus que não queria escrever uma letra que seja sobre o BBB. No entanto, dadas às circunstâncias e à conjuntura sócio-política do Brasil neste dado momento, este assunto vem a ser a temática deste artigo.

Num momento em que pessoas se embriagam ao volante e pouco se importam, ou que movimentam céus e terra contra a agressão a uma cachorrinha e no entanto, veem o drama de uma senhora agredida por um agiota ou ainda o trágico cenário de definhação humana corriqueiramente vista nos becos da Cracolândia com cara de paisagem, o Big Brother Brasil é uma amostra da mais dantesca imagem do que se tornou a cultura, o comportamento e a mentalidade do povo brasileiro.

O caso do suposto estupro cometido por um dos participantes a uma colega de confinamento, que estaria bêbada e inconsciente levantou uma série de reações que escancaram as mais torpes e estarrecedoras cicatrizes da sociedade brasileira. Cicatrizes essas que impedem de nos tornar civilizados, empurrando-nos para a barbárie.

A primeira cicatriz é a do moralismo. Um homem não pode se aproveitar de uma donzela, mesmo bêbada, isto seria um estupro, um atentado à moral e aos bons costumes, como se nosso país fosse um povo de puritanos, que se julgam castos e perfeitos a ponto de julgar os atos alheios e ver neles toda a sorte de maldades.

A segunda cicatriz é a do machismo. Ela se ofereceu! Ficou rebolando essa bunda carnuda na frente do cara e ele não resistiu! Fez seu papel de homem que é o do predador sexual, viril, forte, que não deixa escapar as oportunidades, mesmo que de forma malandra e covarde! Veja, caro machão, se estivesse no lugar dele não faria a mesma coisa? E qual o papel da mulher neste caso? Apenas de objeto sexual? De  satisfazer ao homem sexualmente, mesmo que não sinta prazer, que não goze, que tenha que sofrer? A maioria dos homens brasileiros foram condicionados a agir dessa forma. Não à toa existe uma velada homofobia que diz que um homem que não faz seu papel de homem, simplesmente não é homem. E a mulher que faz papel de homem é fetiche, desde que não venha “invadir” o território masculino. Já vi muitas lésbicas apanharem de homens por que não admitiam perder suas mulheres para elas, pois se acham acima dos demais, se acham os donos, os chefes, os maiorais.

A terceira cicatriz é a do racismo. EU DUVIDO QUE SE O ENVOLVIDO FOSSE BRANCO TERIA TRATAMENTO IGUAL! (coloco em letras garrafais isso) Se fosse o Alemão que ganhou um outro BBB diria que ele cumpriu o seu papel de macho. Já para esse rapaz, o Daniel, é estuprador, maníaco, bandido. Nunca um negro é visto com bons olhos pela sociedade e também admito que julguei muitas vezes o livro pela capa. As raízes do preconceito imperam e nos impedem de estabelecer no próximo uma relação de confiança. Sempre vemos o nosso compatriota com um olhar malicioso que aumenta conforme escurece a cor de sua pele.

A quarta cicatriz, sendo a mais forte e aberta, é a da hipocrisia. Ela entrelaça todas as demais cicatrizes expondo o nosso vazio de caráter. Uma regra só é válida e aceita, quando esta não nos prejudica. É vergonhoso e inadmissível a admissão da falha, do erro. Acredita-se que Deus é brasileiro e por sermos filhos dessa terra teríamos que ser perfeitos, a nosso modo. Vemos a hipocrisia em todos os lugares. Quantas vezes vimos evangélicos pedindo clemência a Deus nos cultos, mas quando saem de suas igrejas ostentam luxo, falam mal da vida alheia, como se o Deus deles somente o vigiassem dentro de seus templos? Quantas vezes vimos pais e mães dizerem que não tem preconceito contra homossexuais, mas que agridem e expulsam de casa os próprios filhos, quando descobrem que são? Quantas pessoas dizem ser contra a fome e a miséria e no entanto, viram as costas para quem precisa de ajuda? Esse mundo fantasioso de faz de conta, esse formalismo que toma conta da sociedade tornando-a falsa, superficial, quase ficcional nos rumina e nos cospe para uma realidade que  custamos a crer: de que nossos problemas estão diante de nossos olhos e não podemos mais fugir deles ou esconde-los.

Muitos dos nossos problemas são heranças do nosso passado. A abolição da escravatura, a independência do Brasil, a proclamação da república, a república velha, o estado novo, a ditadura militar, a vinda da corte portuguesa, o descobrimento, as revoltas duramente reprimidas e outros fatos históricos, se analisados friamente, nos evidenciam os impactos causados na cultura ideológica de nosso povo.

O momento é ideal para um basta. Uma nova consciência coletiva deve surgir para combater a toda essa barbárie que toma conta de nossa sociedade. Um olhar crítico se faz necessário em vez de aceitar tudo o que nos é oferecido.

As “cracolândias” de nosso cotidiano

Desde o final do ano passado, a polícia militar paulista vem empreendendo uma operação permanente na região central da capital paulista, em um local conhecido como Cracolândia, onde o consumo de crack se dava livremente. Centenas de pessoas foram abordadas, traficantes presos, prédios abandonados desocupados, num processo tido como higienista por muitos especialistas. A forte presença policial no local visa reprimir e erradicar o tráfico e consumo de drogas e conduzir os dependentes químicos para tratamento, porém o trabalho ostensivo e até agressivo por parte das incursões policiais está mostrando resultados pouco desejados ao que a sociedade almeja.

O primeiro efeito observado foi a dispersão das pessoas dependentes e traficantes para outras regiões do centro de São Paulo. Antes, essas pessoas ficavam concentradas na região da Praça Júlio Prestes, e com a operação policial se dirigiram a outras regiões. Outro efeito observado foi o aumento da busca por tratamento aos dependentes químicos, porém a estrutura para acolher essas pessoas na região da Cracolândia é insipiente para atendê-los. A operação foi alvo de críticas às autoridades policiais. Ficou evidente que o Governo do Estado de São Paulo ainda considera a questão da droga como caso de polícia, em vez de ser considerado um caso grave de saúde pública. A narcodependência é uma epidemia mundial que não pode ser resolvida apenas com a repressão ao tráfico e ao consumo. É preciso tratar o dependente e também conscientizar as pessoas do risco que os narcóticos trazem às suas vidas.

É importante realizar ações para conter o tráfico de drogas, porém é preciso saber e entender como as pessoas são conduzidas ao vício. O tráfico de drogas só existe pois existem pessoas que tem necessidade de consumir drogas, o que parece óbvio, porém não perfeitamente compreendido pelas autoridades políticas que preferem trabalhar com a repressão do que com prevenção.

A questão da droga não está apenas na Cracolândia. É apenas a ponta do iceberg de um abismo social formado por lacunas que a droga preenche pela ausência do Estado na formação do cidadão. A educação é o primeiro e importante passo para que o cidadão tenha consciência de seus valores e também dos males que todo e qualquer vício podem ocasionar. A formação do cidadão, não apenas cultural, mas social e pessoal, garantem às pessoas estímulos à sua auto-estima e os protegem de ser susceptíveis a qualquer tipo de ato danoso a si ou a sociedade.

O trabalho de comunicação e conscientização permitem a todos o conhecimento pleno do universo da dependência química tratando o dependente como um doente e não como bandido. O trabalho deve ter foco na família tanto dos que estariam expostos ao tráfico como os que já fazem uso de drogas.

Devemos também desmistificar a questão da droga, sem eufemismos. Todos nós, em maior ou menor grau, sofremos a consequência do mal da droga e não podemos nos isentar de responsabilidade em lutar contra esse mal.

Aos dependentes devemos mostrar-lhes alternativas. O universo da droga é paranoico. A pessoa, aos poucos, passa a viver em função do vício, chegando-o a estar totalmente alheio à realidade. O processo de recuperação deve ser inverso, porém é tortuoso pois muitos dependentes acabam vendo qualquer alternativa à droga como um retorno à vida sofrida. O processo de recuperação começa pela análise da vida do dependente químico.

A contribuição da sociedade deve ser coordenada e sinérgica. Todos devem contribuir para acabar com a epidemia da narcodependência.

Os gigantes da internet vão parar

As gigantes da internet mundial vão promover um blackout nos próximos dias. Pois está em tramitação no congresso americano um projeto de lei que restringe e pune entidades que permitir pirataria. O risco é de um controle maior da Internet com censura de sites, sob a alegação de pirataria.

O ponto que deve ser discutido, não é o controle da internet, mas sim a distribuição da cultura. Vemos claramente a indústria fonográfica, cinematográfica, de mídia e de software estadunidenses fazendo lobby para o congresso de lá aprovar medidas que atendam a seus interesses e consolidem a cultura como um negócio em vez de fonte de expressão e conhecimento.

Google, Amazon, Facebook, Wikipédia e Mozilla Foundation lideram o movimento contra essa lei e são exemplos fieis de que é possível ser rentável compartilhando livremente o conhecimento. As atitudes da RIAA, sobre o pretexto de “preservar a propriedade intelectual”, visam tentar reverter, inutilmente, um processo de desmonetização da produção cultural, saindo de uma realidade de fornecimento de produtos, para o de prestação de serviços.

Preservar a propriedade intelectual não é arrenda-la, precificando-a. É garantir o prestígio de seus criadores criando mecanismos que garantam a sua autenticidade. É permitir o acesso livre à produção cultural por meio da mídia e dos meios de comunicação. É buscar formas rentáveis de fornecer conteúdo sem onerar ou penalizar seus usuários. O que a “indústria de entretenimento” estadunidense faz é ferir gravemente a cultura com sua ganância por lucros.

No Brasil, vemos o absurdo que é a indústria de software e de cultura. Uma entrada para o cinema custa em média R$ 18,00. Para o teatro, R$ 25,00, R$ 30,00. Para shows, entre R$ 50,00 e R$ 100,00. Jogos de futebol, R$ 30,00; Museus, R$ 12,00. Um DVD custa cerca de R$ 30,00 e Blu-Ray, R$ 50,00. Um DVD com o Windows 7 Home Basic custa R$ 299,00¹. Um livro Best Seller custa em torno de R$ 60,00 a R$ 160,00. Jornais de grande circulação custam em média R$ 3,00 e revistas semanais entre R$ 8,00 e R$ 12,00. Um sinal de internet banda larga com provedor custa, em média R$ 150,00. Rede elétrica R$ 50,00. O custo médio da cesta básica em São Paulo ficou próximo de R$ 300,00² e o salário mínimo, desde o dia primeiro, é de R$ 622,00³. Vendo todos esses números chegamos à conclusão que a culpa pelo fato triste que é fraca demanda brasileira por cultura é o seu acesso restrito pelo seu alto custo. Os produtos culturais brasileiros, mesmo sendo de boa qualidade tem preço totalmente fora da realidade econômica brasileira. Isto nos coloca como uma sociedade carente de cultura e que acaba encontrando em fontes ilegais o seu acesso. Ou então deve optar por garantir sua subsistência ou consumir cultura. A monetização da cultura é um meio cruel de exclusão social, pois sem recursos uma pessoa não pode ter acesso à cultura e ao conhecimento. O Estado pode contribuir com incentivos fiscais, mas os controladores da indústria do entretenimento precisam mensurar adequadamente os valores de consumo da cultura, para que este se torne acessível a todos.

Os gigantes da internet veem que a atitude da indústria de Showbiz estadunidense é um retrocesso e uma ameaça não apenas aos seus negócios, mas a cultura, às pessoas e à internet como um todo.

E ameaçam parar a web. Com toda a razão.

¹ Cf. http://www.kalunga.com.br/prod/windows-7-home-basic-brazilian-dvd-f2c-00007-microsoft/670935?menuID=40&WT.svl=4
² Cf. http://www.dgabc.com.br/News/5934926/preco-da-cesta-basica-sobe-6-51-em-2011-em-sp.aspx
³ Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Sal%C3%A1rio_m%C3%ADnimo#Brasil