As cercanias de uma universidade

É interessante ver os fatos sobre um outro olhar, mais clínico, despido de qualquer tendência a apoio ou rejeição. Sorte tenho de ter duas visões de uma mesmo evento. Pelas redes sociais e através de amigos estudantes e militantes tive informações sobre a ocupação da reitoria da USP, e acompanhei, preocupado, o seu desenrolar. O resto vi pela mídia, claramente buscando enfraquecer o movimento com rótulos, factoides, agressividade e menosprezo.

Pelo que pude ver, houve sim, uma certa desorganização por parte dos estudantes, pois permitiram que alguns jovens, estudantes ou não, externassem a face do movimento que a mídia escancara para que os retóricos moralistas demolissem o movimento em críticas rasgadas, para que a opinião pública condenasse o movimento. Todo aquele que age e pensa sem se preocupar com o movimento e seu impacto o trai. E ao usar de expedientes que contrariam e distorcem os intuitos do movimento é um ataque ao próprio movimento. Quando vi que alguns jovens foram presos portando entorpecentes no início da ocupação, a atitude esperada de um movimento focado e organizado seria de condenar o ato, ou dos estudantes detidos, ou das autoridades policiais, mas preferiu-se a omissão. Estamos em uma sociedade, onde infelizmente a questão da droga é tratada ainda como caso de polícia. Mostrar que a questão da droga vai além de uma infração penal, daria uma força tremenda ao movimento e à manifestação. Por outro lado, a atitude das autoridades ao dispersar o movimento foi exagerada, descabida e autoritária. A energia gasta pela polícia em debelar o movimento (mais de 400 policiais, tropa de choque, helicópteros, dignos de rebelião em presídio), poderia ser utilizada se pudesse conter as milhares de mortes que ocorrem diariamente nas periferias deste país por conta de drogas ilícitas, armas ilegais, crime organizado e muito mais.

Do lado de fora vemos que o jovem estudante da USP já foi estigmatizado e rotulado de playboy, maconheiro, frustrado comunista entre outros rótulos indesejáveis. O fato de a USP ser considerada uma universidade elitista está no fato de o Estado não propiciar uma educação baseada no aprimoramento qualitativo, em vez de quantitativo, não valoriza o educador, não torna o esporte e a cultura elementos catalizadores e motivadores de uma educação de qualidade, para não dar igualdade de oportunidade ao povo e termos assim uma sociedade justa e democrática.

As questões que envolvem essa ocupação vão muito além da segurança, drogas, política, polícia ou repressão. Está na forma de como enxergamos a sociedade, e de como torna-la melhor. Vemos aqui a hipocrisia, o moralismo e o atraso estampados em nossa cara preconceituosa, ao vermos, na televisão, jovens de futuro sendo agredidos covardemente, e achando tudo isso muito bom. Por outro lado é hora de mudar a verdade socialista que nos rodeia. Como diria no filme “Tropa de elite”, o inimigo agora é outro. O discurso de algumas correntes de esquerda me incomodam pelo seu grau de alienação e descolamento da realidade social. Não se deve levar tudo a ferro e fogo e temo que a não adaptação da esquerda aos novos tempos pode mata-la. É preciso manter os ideais mas adaptar o discurso e as práticas a novos tempos.

Está na hora de um novo nível de pensamento, que propicie a todos um real entendimento de nosso papel como cidadãos. É temível que a única solução para tudo seja a barbárie e o conflito. E é mais temível que o Estado, que deve nos proteger, prefere agir de forma ditatorial e violenta. No fim, todos nós saímos derrotados e nossa sociedade dá mais um passo para trás, rumo à ignorância.

O anti-clímax

A economia mundial está à beira de um ataque de nervos. A crise grega abre precedente para uma nova grande depressão mundial. O primeiro-ministro grego chegou a anunciar um referendo para que os gregos escolham se querem ou não continuar na zona do euro, mas… refugou. O medo de sair da eurozona com uma mão na frente, outra atrás, pesou. E esse anti-clímax se dá hoje pois a Europa criou um mercado, criou uma moeda, mas não criou padrões de ajustes fiscais mais claros, detalhados e rígidos a seus países-membros. Isso permitiu o descontrole do gasto público, elevado endividamento e risco de quebradeira e calote, exemplo que vemos na Grécia.

O mal maior dessa crise, em que vemos os mercados em franca turbulência, existe devido a questões estatutárias e culturais de cada país. Enquanto o alemão se aposenta aos 75 anos, o grego se aposenta aos sessenta, fazendo que o alemão também pague a aposentadoria do grego. Há também um funcionalismo público muito grande na Grécia, tornando o estado muito caro. Essa gastança exige dinheiro, que os gregos pediram emprestado e agora não podem mais pagar. A crise grega é fruto da tentativa frustrada de unificar economias nacionais, mas sem observar as particularidades econômicas de cada nação europeia. Para que uma economia seja plenamente conduzida é preciso padrões de conformidade comuns entre todos os locais influenciados por essa condução. E esse padrão gera uma relação paradoxal, pois é fundamental a sua existência, mas prejudica a todos que defendem privilégios, pois coloca todos em um mesmo patamar de direitos e deveres.O desafio agora é corrigir as falhas e estabelecer esses padrões mesmo a contra-gosto de muitos países.

Privilégio é um termo próprio do capitalismo. Quando é necessário um movimento de unificar entidades, podem ocorrer três possibilidades: mescla, imposição ou ruptura/ conflito. Ao criar a União europeia, certamente o intuito foi de mescla, mas a falta de imposição de uma unidade, está provocando esses conflitos. O mercado comum é uma forma de salvar o capitalismo com a conjunção de forças, mas vemos que este movimento evidencia a falência deste sistema, pois o acúmulo de capital fortalece um pequeno grupo de privilegiados sob o preço de prejudicar um grande grupo de pessoas.

Assim conclui-se: é preciso mudar os rumos da humanidade.

Ensaio sobre a alienação (está tudo errado)

A sociedade humana possui diversas correntes de pensamento em diversas áreas do conhecimento. Algumas convergem, mas muitas divergem entre si. Nos vemos em um permanente dilema entre correntes e doutrinas divergentes, que nos cooptam para um lado ou outro. No entanto, podemos perceber uma certa incoerência nessas doutrinas, se estas não mudam ou se adaptam com o tempo.

As capacidades de exploração do universo por meio do conhecimento são infinitas. No entanto, alguns dos detalhes desse universo não obedecem a uma lógica, ou seja, não podem ser explicados sob um conceito meramente definido, pois são objetos abstratos. O grau de abstração de um objeto é muitas vezes ignorado pelas correntes de pensamento, pois muitas delas tem uma definição concreta e definida de uma realidade. Assim surge uma incoerência, pois um objeto abstrato não poderia ser descrito de forma concreta, pois este não teria suas possibilidades e detalhes totalmente definidas, pela própria natureza abstrata do objeto, e para que essas possibilidades sejam exploradas, seria preciso aumentar o grau de complexidade do conceito concreto. Assim teríamos uma estrutura conceitual similar a de andaimes de um edifício de formato não padrão, circundando-o, mas sem exibir sua forma real, obscurecendo-o. E isto gera uma distorção, pois a realidade apresentada difere da realidade nativa do objeto em questão.

Em áreas do conhecimento de ciências humanas como sociologia, política e psicanálise, são onde existem as maiores discrepâncias. Isto ocorre pois, como existe no ser humano há razão e emoção, muitas das nossas conclusões, atitudes, opiniões e pensamentos não tem como motes a lógica. Isto gera uma cultura de buscar uma lógica para tudo, uma justificativa baseada em argumentos concretos de um dado objeto ou realidade. Esta é uma grande deturpação, tanto no conhecimento criado, mas quando este conhecimento é repassado a outras pessoas. Isto faz com que algumas correntes de pensamento apenas privilegiam alguns detalhes do objeto tendo assim uma visão distorcida da realidade. Algumas dessas correntes são usadas de forma mais distorcida ainda como ferramentas de alienação.

A alienação é uma ferramenta de poder. Com base em uma doutrina ou ideologia, um alienador coopta um indivíduo, por meio de persuasão, a aceitar e defender essa doutrina, sem questioná-la, e rejeitando opiniões que se opõem a essa doutrina. Este indivíduo se torna alienado e abdica de seu poder intelectual em prol da doutrina e/ou do alienador. E isto é perigoso. Por conveniência ou aceitação social, deixamos de exercitar nosso senso crítico para aceitar o que comumente é aceito. Isto faz com que doutrinas se solidifiquem e tornem mais difíceis seus questionamentos ou contestações. E essas doutrinas são legitimadas pela tradição, tornando-se dogmas. A tradição se torna uma identidade de um grupo humano e este, por sua vez, irá defendê-lo, para garantir sua identidade e por conseguinte, sua existência. Isto faz com que estes grupos humanos criem realidades internas e visões de mundo próprias, em muitos casos, abstrações do mundo real, ou deturpações da realidade usando-se dessas doutrinas como lógicas para realizar sua leitura.

O ser humano é um ser social, e também um ser que possui necessidades individuais. Há uma certa confusão entre o eu social e o eu individual, pois uma pessoa não é auto-suficiente, ou seja, não é capaz de satisfazer suas necessidades sozinho. O que se questiona nesse processo de alienação é a sublimação das necessidades individuais ou coletivas em prol de uma doutrina ou necessidade individual e patriarcal de um líder carismático. Monopolizar o pensamento para uma única fonte é um mal, se utilizado para promover desigualdades ou pregar ideologias que contrariam a natureza humana como ser individual e social.

O papel da crítica é importante contra a alienação pois se contrapõe a sua causa: a doutrina a qual a alienação se baseia. Respeitar as individualidades e particularidades de um indivíduo é vital para uma sociedade harmônica e dinâmica, pois equilibra as relações de poder a um nível em que todos possam se tratar como iguais, mesmo sendo diferentes. Grupos com características comuns podem conviver com indivíduos ou grupos antagônicos a seus conceitos, desde que ambos os lados respeitem seus espaços e não queiram invadir ou destruir o espaço alheio. Isto seria possível se não houvesse ganância por poder ou influência, gerando assim os conflitos.

O ego é o fiel da balança neste processo. Pois a ganância somente existe quando o ego se sobrepõe ao ser social. E o ser alienado tem seu ego atacado quando percebe que sua doutrina também é atacada por outra. O ser humano recebe ao longo da vida diversas informações as quais tomam para si como verdades. O valor de seu caráter é medido pela comprovação alheia de suas verdades. Isto o torna confiável e sociável. Quando sua verdade é atacada, sua confiança também é atacada e assim, seu ego é ferido. Um ser alienado possui uma baixa auto-estima, já que abdicou de sua verdade para vivenciar outra externa. Assim, este agarra e defende cegamente essa verdade externa, tomando a si como uma verdade própria. Isto também o torna menos racional e mais passional, pois não desenvolveu seu senso crítico e seu raciocínio lógico. Este grau de passionalidade pode levar à insanidade e a ações que contrariam a lógica humana e social, tornando-os agentes de violência, intolerância e disputa de poder.

Tudo isto nos faz concluir que não há uma verdade única. Mas que todas as verdades devem ser respeitadas. Ou seja, tudo está errado.

Estação Paulista: “bunitinha”, mas ordinária

A estação Paulista é um exemplo de desorganização e desrespeito ao cidadão, com mal uso do dinheiro público.

Ontem, 9 da manhã, ao ir para a faculdade pela linha 4 amarela do metrô de São Paulo, pude notar uma grande desorganização a ponto de haver um congestionamento de pessoas, na única conexão entre as estações Consolação e Paulista.

Nota-se que por haver uma única conexão, é invevitável, nos horários de pico não haver esse tipo de inconveniente, mas isso poderia ser previsto na construção da obra. Poderia haver mais de uma conexão entre as estações melhorando assim o fluxo de passageiros entre os acessos à estações.

Mesmo a linha 4 ter sido cosntruída como uma parceria público-privada, os subsídios e o uso dos recursos públicos para viabilizar a obra custaram dinheiro público. E o mal uso desses recursos prejudiuca duplamente o cidadão, pois esse recurso poderia ser usado em algo mais importante, ou mesmo de melhor qualidade.

O grande problema do metrô paulista é a grande demanda que não é capaz de comportar. São Paulo é uma cidade muito grande e a malha metroviária não serve a todos os cantos da cidade. Isso torna a linha saturada, com poucas alternativas de viagem e muito sufoco nos horários de pico. E estações que não estão preparadas para esse fluxo, com poucas conexões, ou ligações longas demais. Leva-se, por exemplo, cerca de 5 minutos em passo apressado, para sair da plataforma da estação Pinheiros na linha 4 amarela, para chegar à plataforma da mesma estação, na linha 9 da CPTM. Em nenhuma obra, observou-se medidas que simplifiquem ou facilitem a utilização do usuário, mais para padrões estéticos ou de menor custo.

Por essas e outras, que muita gente vai preferir ir e vir de carro por São Paulo.

#ThankYouSteve

Steve Jobs * 1955 † 2011

O mundo tecnológico perdeu o seu brilho. Morreu ontem Steve Jobs, fundador da Apple, uma das empresas mais inovadoras da atualidade. Sua contribuição para tornar a tecnologia computacional próxima de nós é notável e relevante. Ao fundar a Apple Computer, junto com Steve Wozniak, em 1976, Steve não poderia imaginar que seu estilo rebelde, perfeccionista e visionário pudesse levá-lo tão longe. E nós pudemos ver que a tecnologia ficava cada vez mais pessoal, primeiro com o Apple II, com o Lisa, Macintosh, iMac em nossas mesas, seguido do iPod, iPhone e iPad em nossas mãos. Tudo de uma forma simples de entender e belo de olhar, como toda obra-prima de um grande artista.

Pareciam que Steve e Apple nasceram um para o outro. Quando foi afastado da Apple em 1985, a empresa parecia se sentir sozinha. Seu senso de liderança impunha uma leal competição fazendo com que a inovação surgisse diuturnamente como em uma linha de montagem. Somente em 1996 quando retornou a sua velha casa, que as inovações voltaram a surgir no vale do Silício.

O império da Apple Computer que é hoje, existe graças a seu desbravador. Steve poderia ser comparado a grandes gênios como Newton, Einstein, Chopin e tantos outros, mas prefiro compará-los a conquistadores como Alexandre, o Grande, e tantosn outros que desbravaram e conquistaram rincões deste mundo, com a diferença de não ter disparado um só tiro, ou ter ferido ninguém com lanças ou espadas. Conquistou um mundo inteiro com ideias novas e revolucionárias.

Claro que há controvérsias. Diziam que era exigente demais, que provocava discórdias pois seu poder de persuadir, influênciava seus subordinados a uma lealdade quase cega. Houve também ausações recentes de suicídios entre os funcionários da Foxcomm, na China, onde são produzidos os seus produtos, além do plágio do sistema de interface gráfica da Xerox, que culminou com o surgimento do MacOS.

Mas estes senãos não tiram o brilho de Jobs. Um lider do nosso tempo. Um visionário, um criativo, um descobridor de inovações. Por sua inestimável contribuição à tecnologia, muito obrigado, Steve!

Thank You, Steve!

Um basta a tudo isso

Foto: André ArrudaPiquete no Complexo Verbo Divino do BB em 27/09/2011. Foto: André Arruda

Quantas foram às vezes em que nos vimos contestando alguma coisa em seu trabalho? Achar que é preciso mudar é natural e saudável, pois afinal, quem ama seu ofício se esmera sempre em aprimorar suas práticas com o intuito de tornar seu ofício melhor e reconhecido de valor. Num trabalho temos relações formadas em diversas partes, seja com clientes, superiores ou subordinados, e nessas relações temos momentos de conflito. E são nesses momentos críticos que surgem oportunidades de consenso. Mas este consenso deve vir da iniciativa de ambas as partes, caso contrário, o impasse leva ambos os lados a perdas.

Ultimamente, recebi críticas sobre minha defesa ao recurso da greve. Disseram-me que é mais fácil fazer uma greve do que fazer uma pós, que greve é terrorismo, que greve é prejudicar o povo, pondo-o como refém por conta de frustrações pessoais, e de que se não está satisfeito com o trabalho, procurar outro trabalho, e inclusive disseram que estamos reclamando de barriga cheia, pois havendo tanta gente desempregada, ficamos reclamando do emprego. Como se vê, os comentários acima que recebi tem algumas características que valem a pena comentar e compartilhar com vocês. Até porque tentar debater com os críticos que nos ofendem é cansativo e inútil, e sei disso por experiência própria, semana passada. E nada melhor do que utilizar o meu espaço para falar a respeito. Primeiramente, com o conformismo que impera neste país, é muito comum ouvir esse tipo de comentários, pois os críticos não se conformam justamente com quem não se conforma em ser explorado. Se quisermos um emprego melhor, que valorize e dignifique nosso esforço, primeiro queremos o em que estamos empregados seja melhor. Pois permitir ser explorado é assumir sua passividade diante dos fatos e renunciar a seu protagonismo, não sendo merecedor de nenhum mérito. Nossa cultura, em parte baseada em suas origens religiosas, nos impõe ao paradigma da dádiva. Acredita que tudo se dá nada se conquista, e que todas as nossas realizações provêm da indulgência de alguém ou de alguma organização. Isso nos leva ao paternalismo e ao conformismo como movimentos comportamentais que influenciam as opiniões de muitas pessoas. E com isso, todo o tipo de ação que contraria esta lógica de dádiva, não é tolerado. Esse conformismo leva nosso povo a uma situação de paralisia ideológica, enfraquecendo qualquer movimento que vá de encontro a essa lógica.

É preciso por um basta a esta anestesia sem cirurgia que toma conta deste país. O grau de paralisia é enorme. Há uma pressão inflacionária que o governo teima em dizer que é produtivo, mas a culpa exata é de uma carga institucional a qual não podemos arcar. A greve é uma manifestação legítima e deve servir de exemplo para um despertar. Não podemos nos contentar em trabalharmos sob pressão exaustiva sem o devido reconhecimento de nosso esforço. É importante mostrar a realidade dos insatisfeitos antes de tirarmos conclusões precipitadas.

O preconceito e a desinformação fortalecem essas críticas, reforçados por uma mídia tendenciosa. Sexta-feira houve uma passeata na capital paulista unindo bancários e funcionários dos correios em greve, com cerca de oito mil manifestantes. O evento foi veiculado na imprensa, porém a maior rede de televisão do país veiculou o protesto da seguinte forma:

Fátima Bernardes: Boa tarde! Sexta-feira de manifestações em São Paulo. Roberto Paiva.
Roberto Paiva: Funcionários dos Correios se reuniram aqui no Vale do Anhangabaú, e depois saíram em passeata pelas ruas do centro de São Paulo. No caminho se encontraram com bancários, que também estão em greve. As duas categorias pedem aumento nos salários. Os funcionários dos Correios marcaram pra segunda-feira uma assembleia aqui em São Paulo pra decidir se continuam em greve. Roberto Paiva para o Globo Notícia.

Essa foi a transcrição da matéria veiculada na televisão. Mas na internet a informação se encontra mais distorcida e tendenciosa (clique aqui para ler). Segundo a nota no site G1, o protesto reuniu cerca de 400 pessoas. Segundo a Polícia Militar havia 2.000 pessoas ali. Informar que a greve se propunha apenas requerer salários é jogar a população contra o movimento. A população sabe que a qualidade de atendimento dos Correios e dos Bancos decaiu muito e isso não ocorre por causa do funcionalismo e sim por um processo de gestão inadequado e focado apenas na produtividade sem considerar a qualidade dos serviços, pois isso onera e reduz a lucratividade dos negócios. Reitero que este modelo de gestão é arcaico e oriundo dos modelos capitalistas do início do século, os quais muitos dos gestores atuais dessas empresas pertencem a essa filosofia de gestão, que além de ser exploratória, é insustentável. O movimento grevista vai muito além da questão salarial, tem a ver com a qualidade do atendimento que não pode ser garantida apenas pelo funcionalismo pressionado e assediado moralmente, sem recursos apropriados, sem segurança ou tranquilidade para exercer suas atividades. É preciso conhecer a realidade do trabalhador que entra em greve antes de criticar sem fundamentos. A realidade do trabalhador dos correios e a do trabalhador bancário são muito duras, diferente do que é conhecido pelo público em geral. Nós, bancários sofremos com metas abusivas, controle de tempos e movimentos, assédio moral, falta de recursos, poucas contratações, ameaças de demissões e descomissionamentos e até nepotismo. Isto afeta a qualidade do nosso trabalho e também se reflete na percepção que o cliente tem de nosso trabalho, como se fossemos cúmplices do descaso que há nos bancos com os clientes: burocracia, operações casadas e até mesmo não autorizadas pelo cliente, filas, demora no atendimento, tarifas e taxas de juros exorbitantes. Mesmo com a quantidade de recursos eletrônicos disponíveis, um banco não opera sem o esforço e a dedicação do funcionalismo. O quadro funcional é o patrimônio mais importante de qualquer organização, pois é ela, e não as máquinas que fazem o sistema operar e funcionar, pois uma organização não vive de usos de produtos, sim de relações humanas. Não compactuamos com essa prática dos bancos que, com ou sem greve flagelam a população brasileira.

É importantíssimo que a greve ocorra, apesar dos transtornos causados a quem também é vítima da intransigência patronal, pois é uma importante manifestação de insatisfação diante de um modelo de gestão que precisa ser revisto em prol dos trabalhadores e da população brasileira.

O anúncio

A direção do Diretório Municipal de Diadema,

Prezados senhores,

Diante de questões de compromissos pessoais e pelo desenrolar dos últimos acontecimentos, os quais me fizeram surgir divergências ideológicas junto ao Partido dos Trabalhadores, venho por meio desta, requerer minha desfiliação a esta entidade.

Sempre acreditei em meus ideais, e continuo respeitando a todos os membros deste partido, os quais muitos deles são meus amigos. Porém as circusntâncias dadas pesaram fortemente por essa decisão.

Fico grato pela experiência política acumulada, mas seguirei outros caminhos, agindo de acordo com meus ideais.

Sem mais,

André Arruda dos Santos Silva

11/09/2011: 10 anos de fato tristemente histórico

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Hoje o mundo lembra os atentados terroristas ocorridos nos Estados Unidos, há exatos 10 anos. E este triste episódio marcou profundamente a história recente da humanidade. E pudemos presenciar na TV, no rádio, na Internet, jornais toda essa tragédia, como se esta estivesse nas janelas de nossas casas. Pude presenciar naquela terça-feira fria e nublada de 11 de setembro de 2001, em São Paulo, como tudo poeticamente conspirava para um dia triste. As emissoras de TV não paravam de falar sobre o ocorrido, as rádios também, muitas delas interrompendo sua programação para informar continuamente os fatos que se sucediam. Ouvi no rádio, surpreendentemente na rádio Energia 97 FM (que toca música eletrônica) que as torres do World Trend Center haviam caído, e com elas a ilusão de que os EUA eram inabaláveis. A internet travou naquele dia. Todos queriam saber sobre o atentado nos portais e sites jornalísticos, congestionando a grande rede, tendo que os próprios sites a criar versões simplificadas de suas páginas iniciais para atender a demanda de acessos.

Como a insanidade pode ser tão devastadora? Os cerca de 3000 mortos em Nova Iorque, Pentágono e Pensilvânia mostram o tamanho de uma estupidez que não tem palavras, tamanho, medida ou causa que justifique tal ato. Ato este que opôs o mundo contra o Islã e provocou outros abalos estruturais na conjuntura mundial. O clima de incerteza contaminou o pensamento de todas as pessoas. Cogitou-se até em uma terceira guerra mundial ou ainda que este ataque seria uma grande fraude por ser tão surpreendente e inesperado. Mas a tragédia foi real e abalou as estruturas da terra dos que se auto-intitulavam “os donos do mundo”, e pairou sobre a terra do Tio Sam uma nuvem de incertezas, e inclusive outros eventos, como o furacão Katrina, tornaram os estadunidenses mais pessimistas.

Uma das consequências do 11 de setembro foi a crise de 2008. As estratégias de defesa, a contenção do clima de insegurança, o contra-ataque contra o talibã e a reconstrução das áreas afetadas pelos ataques custaram muito caro aos EUA. E isto culminou com uma crise econômica americana, insolvência e quebradeira dos bancos, mostrando assim a fragilidade da estrutura econômica estadunidense. E como os EUA são o centro econômico mundial, o efeito cascata provocou uma grande pandemia econômica. Até hoje sofremos os efeitos da crise de 2008 e o rebaixamento da nota da dívida estadunidense reflete que esta crise estará longe de se encerrar para eles, pois há uma grande barreira que é a política. Os republicanos seriam os maiores responsáveis pelo agravamento da situação estadunidense no pós-11/09. Além de ter tomado medidas ineficazes e incoerentes para contra-atacar (o exemplo maior disso foi a invasão do Iraque), não houve um controle de sua política interna, o que fez com que houvesse uma bolha de crédito e que esta estourasse.

O 11 de setembro evidencia uma realidade em que se considera que os fins justificam os meios, tanto de um lado, como de outro, porém esta tese caiu por terra, já que no fim, todos sairam derrotados deste triste e lamentável episódio de nossa história.

De bolsa a pochete

Os últimos dias de tensão no mercado financeiro nos mostram que a economia mundial está cada vez mais integrada, porém frágil, pois a cada abalo na economia de um país, os demais mercados sofrem seus reflexos, gerando um clima de pânico e nervosismo.

Uma série de fatores fez com que a crise econômica se tornasse uma pandemia nos mercados nos últimos meses, a saber:

  • A batalha política no congresso americano, com a possibilidade não confirmada de calote e consequente rebaixamento dos títulos americanos.
  • O agravamento da crise das dívidas soberanas de países europeus: Grécia, Irlanda, Espanha, Portugal e Itália.
  • O aumento da inflação na China, com a adoção de medidas por parte do governo chinês para conter o consumo.
  • A inflação de alimentos em todo o mundo, por conta dos desastres ambientais e climáiticos que reduziram a capacidade produtiva.
  • A tensão no oriente médio com revoltas populares.
  • O terremoto e tsunamis no Japão, em março, que paralisaram a indústria.

No Brasil, esses fatores influenciaram bastante o mercado nacional, já que o Brasil é um importante exportador de commodities agrícolas e minérios. Aliado a isso, alguns fatores internos causaram vulnerabilidades na economia brasiliera, tais como:

  • A letargia governamental por conta do esfacelamento do aparelho público para abrigar os partidos da base aliada.
  • Recentes escândalos de corrupção em ministérios importantes do governo Dilma: Casa Civil, Transportes, Agricultura e Turismo.
  • Postura pouco firme e agressiva frente a inflação crescente.
  • Intervenção estatal em importantes empresas como Vale, Petrobras e Pão de Açúcar.
  • Congresso pouco interessado em tocar grandes reformas como as tributária, política e trabalhista.
  • Fisiologispo político.
  • Descrédito da opinião pública e falta de mobilização popular frente a causas que atravancam o desenvolvimento nacional como a infra-estrutura e o aparelho público da saúde, educação e segurança.
  • Altas taxas de juros.
  • Mercado aquecido, provocando pressões inflacionárias.
  • Possível bolha de crédito.
  • Vinculação de salários à inflação, causando indexação econômica.

Diante de tudo isso, o mercado financeiro no Brasil se viu em um cenário pessimista. Ontem houve uma queda brusca de mais de 8% no iBovespa, quase prococando um circuit breaker, que é uma interrupção das operações da bolsa, caso a mesma atinja uma baixa superior a 10%.

O período é de incerteza, mas não de desespero. Quem tem projetos de curto prazo, o conveniente é retirar os papeis da bolsa. Quem tem intenção de manter o dinheiro aplicado por um longo período e não precisa de resgatar agora, pode deixar como está, pois a queda brusca se deu por pânico, e não por uma crise aguda. Agora quem quer especular o momento de comprar pode ser agora, visto que os papeis estão baratos.

A bolsa de São Paulo tinha 73.000 pontos antes da crise de 2008 e chegou a 29.000 no auge da crise da quebradeira mundial iniciada com a falência do Lemon Brothers. Ano passado, o índice da bolsa havia voltado ao patamar pré-crise, mas desde o início do ano, veio caindo o preço dos papeis. A queda é preocupante e requer atenção, pois não há consenso dos analistas de mercado sobre as perspectivas futuras da bolsa de valores de São Paulo. Há analistas que projetam uma retomada das ações da bolsa, e outros que indicam que continuaria a tender queda. Estes últimos neste momento, parecem ter a razão.

A bolsa de São Paulo, assim, se reduziu a uma pochete.

Em tempo: a bolsa recuperou parte das perdas hoje, com uma alta de mais de 5%, ainda assim, a bolsa brasileira foi uma das que mais tiveram perdas no mundo.

Amy Winehouse está morta

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Os fãs de música foram surpreendidos hoje com a notícia da morte de Amy Winehouse (1983-2011), encontrada morta em sua casa, em Londres, Inglaterra. Mas esta trágica notícia é uma tragédia anunciada pois os frequentes problemas com álcool e drogas levaram-na a esta direção e parecia ser questão de tempo o seu precoce fim. Dona de uma voz potente e inconfundível, sua genialidade musical, que lembrava as grandes divas do Funk/Soul mundial, se contrastava com seu estilo rebelde, desregrado e às vezes inconsequente, com rompantes violentos em escândalos que escancaravam uma vida de vícios em drogas e álcool.

Há dois legados que Amy pode deixar após sua meteórica carreira. O primeiro e mais importante e positivo foi o legado artístico, visto ao seu sucesso arrebatador e sua característica musical ímpar. O outro, tão importante quanto, porém negativo, é o legado social. Os problemas que ela teve com o vício das drogas e do álcool mostram claramente que o entorpecimento não é benéfico a ninguém, pelo contrário, corrói sua capacidade criativa, sua habilidade e por fim, destrói sua vida totalmente.

A mídia, por sua vez, tem uma parcela de contribuição na sua morte. Tabloides e sites de fofoca tornaram-na uma estrela de escândalos, exibindo em close suas bebedeiras e vexames, em nome da audiência e do capitalismo sensacionalista que contaminou muitos jornais em todo o mundo. A relação de Amy com a mídia, tão estreita e conflituosa, contrasta com casos nacionais como o de Fábio Assunção e Walter Casagrande que tiveram problemas com drogas, mas que foram blindados pela mídia (notadamente a Rede Globo, emissora à qual estas pessoas mantinham vínculo profissional), somente falando sobre o assunto após uma reabilitação. Se por um lado a blindagem torna a questão do vício um tabu, por outro, a exposição excessiva o banaliza, e até mesmo incentiva outras pessoas a fazer o mesmo.

Os locais de reabilitação de dependentes químicos são chamados de Rehabs nos Estados Unidos e Inglaterra. E Rehab é o maior sucesso de Amy Winehouse, tornando esta música um retrato de uma artista que imola hoje. Talvez Rehab seja uma sátira à uma vida desregrada, mas pode ser um pedido de socorro contra o isolamento que o vício traz. A dependência de álcool e drogas afasta o viciado das pessoas que ama e o Rehab é o isolamento de forma institucionalizada e formal. Não há recuperação de um dependente sem a reintegração deste à sociedade e à família, pois este problema não é apenas do dependente, já que este não possui mais a capacidade emocional e psíquica de enfrenta-lo. A questão do vício deve ser enfrentado pelo dependente químico e por todos que o rodeiam, sejam parentes, amigos e conhecidos. E este é o verdadeiro sentido que Rehab tem, não dito pela voz de Amy quando cantava aquela música, e sim, com as mensagens subliminares que sua vida enviava a todos nós a cada capítulo conturbado de sua, agora abreviada, vida.

Já que o Brasil perdeu…

Mais uma derrota da seleção canarinho, desta vez nos pênaltis, de forma bizarra, sem converter nenhum tento. A Copa América vem expor as feridas do futebol sul-americano que se vê em um declínio franco e melancólico, às vésperas de sediar a copa do mundo no continente em 2014 após 32 anos do último mundial, justamente na mesma Argentina, onde ocorre esta edição da Copa América.

A primeira constatação é que a organização deste certame foi horrorosa. Como é possível organizar um torneio com gramados cheios de terra e em estado deplorável? Equipes mais técnicas, como Brasil e Argentina sofreram para exibir um futebol vistoso e foram precocemente eliminadas do torneio.

Outra constatação é que houve uma desnacionalização do futebol sul-americano. Nossos melhores jogadores estavam cansados de uma extenuante temporada europeia. No Brasil, havia Neymar, Ganso, Elano e Fred que estão atuando aqui, mas em um campeonato pegando fogo como o brasileiro este ano, certamente eles poderiam estar jogando com o “freio de mão puxado”, e passaram a contar somente com seus talentos, tendo assim uma atuação discreta e aquém do esperado. E este não é um caso particular da seleção canarinho. A atuação de Leonel Messi na Argentina além de outros jogadores de lá, também deixou a desejar, pois estavam cansados. Os clubes europeus estão sufocando a FIFA e as seleções nacionais. Já não tem mais graça ou prazer ver jogadores ostentando uniformes de seleções defendendo e representando o futebol de um país. Tudo isso porque um uniforme de clube não defende o orgulho nacional ou patriotismo e sim os interesses publicitários dos patrocinadores. Há clubes em que o manto sagrado parece uma página de classificados de tanto espaço para anunciantes. Assim, o futebol se torna capitalista e selvagem em que as cifras valem muito mais que o prazer e o bem-estar que o desporto vem trazer ao ser humano.

Não temos uma equipe pronta para a copa. O futebol brasileiro ainda não tem um grupo formado e ainda está longe disso. Claro que ainda é cedo para especular, pois ainda temos safras de bons jogadores chegando. Mas é preciso calma e paciência para que o grupo surja e se torne um selecionado de respeito. Temos bons jogadores, mas um time ainda não.

Não é preciso ser futurólogo para ver que as tendências do futebol são cada vez mais sombrias. Daqui a três anos, quando nos gramados brasileiros, a copa do mundo passar por aqui, esperamos que aconteça o ideal, mas é longe do possível. Mas sabemos que é preciso instituir mudanças sérias no desporto, não apenas no futebol, pois o atual modelo de gestão do desporto é falho, gasto, corrupto, intransigente e não serve mais para hoje, nem para o futuro.

"Sô di menó, dotô!"

Segunda-feira, 11/07, em Guarulhos, ocorreu um acidente de trânsito que vitimou fatalmente duas mulheres e feriu um bebê, que sobreviveu. O carro que provocou a tragédia estava sendo guiado por três adolescentes que o roubaram e estavam fugindo da polícia. Cada vez mais vemos memores envolvidos em crimes neste país e este artigo vem discutir o assunto, mostrando uma realidade cada vez mais torpe da criminalidade, tendo adolescentes como instrumentos na prática dos crimes.

Qual a diferença entre um adulto armado e um adolescente armado? Está na estrutura psicológica que no jovem é menos desenvolvida, a ponto de não ter o menor discernimento dos fatos aos quais rodeiam. Isto faz com que o adolescente aja de forma mais incisiva e  inconsequente, fazendo com que este consiga, de uma forma mais violenta e agressiva obter resultados em seus delitos. Um adolescente por não ter conhecimento e discernimento pleno dos fatos, é facilmente influenciável, manipulável e tem uma grande busca por desafios e é emocional e de uma entrega grande por seus objetivos.

O mal maior que existe nesta utilização de menores no crime é que o êxito nas ações delituosas deles tem o mesmo efeito viciante de entorpecentes. E a gravidade é maior pois a formação precoce no crime faz com que o jovem infrator se torne um adulto criminoso de alta periculosidade com traços psicopatas. E a utilização de jovens no crime ocorre pela incapacidade do estado em tratar do problema do menor infrator em todos os seus aspectos. Pelo aspecto jurídico, a ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) estabelece normas que de certa forma acabam protegendo o menor infrator, mas essa proteção é mal interpretada e mal executada pelas autoridades. Há diversas causas para que um adolescente siga o caminho da criminalidade e entre elas está a falta de amparo do Estado em garantir condições dignas de saúde, educação, moradia e lazer a estes jovens. Além disso, os criminosos adultos os utilizam como álibis na prática de seus crimes, pois a função de mandante do crime somente ocorre quando há casos de homicídios. Porém vemos como autores intelectuais de crimes cometidos por menores, pessoas adultas e com passagens na polícia.

A primeira medida a ser adotada é endurecer a lei contra os aliciadores de jovens. Quem recebe um bem roubado por um adolescente está sendo mais culpado do que o jovem, pois este último estaria sendo apenas um instrumento da execução do delito. Também temos que buscar alternativas de inclusão do menor infrator, separando-o em grupos menores e oferecendo a ele alternativas de saída do mundo criminoso. Paralelamente, oferecer suporte total a jovens em situação de risco, para que tenham uma alternativa viável à criminalidade. Por fim, estabelecer uma nova política criminal em que seja possível uma punição rápida e justa a todos os pegos em delitos, e que esta punição tenha o intuito de ressocializar o indivíduo, em vez de marginalizá-lo.

A mãe, a amiga e a p*ta

Em uma sociedade machista e conservadora como a nossa, espera-se de uma esposa três comportamentos distintos: a mãe, a amiga e a prostituta. É triste ver que a mulher valha para o homem tão pouco. A mulher não deve ser a sombra do homem atendendo somente a suas necessidades afetivas, domésticas e sexuais. A mulher precisa também ter suas necessidades plenamente satisfeitas de modo que possam buscar sua satisfação de maneira livre e independente.

A cultura machista, sexista e patriarcal a qual estamos submetidos, coloca a mulher em um estágio bem abaixo do digno. Os salários são menores, sofrem com o desrespeito, subestimam sua capacidade intelectual e de habilidades e são constantemente vistas mais pelo aspecto sexual. Nunca vi de tamanha insensatez homens jovens referindo às mulheres pela genitália feminina, como se estas somente servissem para isso.

Ainda busca-se a famosa “Amélia”. Aquela que era mulher de verdade, que não tinha a menor vaidade… Esse conceito de mulher Amélia é o da mulher submissa e doméstica que somente cuidava dos afazeres domésticos e conjugais. A mulher Amélia não existe mais, mas insistem em achar que a mulher deve ficar em casa, rebaixando sua dignidade quando realiza atividades tipicamente masculinas como trabalhar ou dirigir. Todo homem tem necessidade de afeto materno. Este afeto é censurado pela cultura machista pois tornaria o filho efeminado. Quando o homem se casa, essa necessidade de afeto pode ser enfim, preenchida, mas não de forma idêntica à forma que havia na infância, pois quem estaria no comando agora seria o “filho”. E assim, este “filho” crescido buscaria na esposa os cuidados que recebia quando era criança pela mãe, mas sem as obrigações que a mãe impunha ao filho para educá-lo. Este saudosismo maternal pode ser observado em alguns relacionamentos através do comportamento infantil dos homens, e pelo desleixo que eles fazem em suas ações cotidianas como o uso de ambientes, utensílios e pela recusa e sensação de incapacidade frente a atividades domésticas.

É curioso que a amizade da esposa, ao modo machista de ver, nada mais é do que uma concordância cega e aceitação de opinião de forma incontestável. O homem é quem manda e a mulher deve apenas aceitar a opinião do marido, mesmo que não concorde. Duas mentes trabalham melhor e é da divergência é que surge o consenso e com isso, melhores alternativas para questões pontuais ou para planos futuros.

Em suma, homens e mulheres podem conviver em um mesmo espaço de forças em um relacionamento. Não é por questões culturais que um deve se sobressair ao outro. É necessário um diálogo e um entendimento entre as partes para que um relacionamento se torne algo benéfico para ambos em um par. E para isso deve deixar de existir que uma mulher somente serve para ser a mãe, a amiga e a prostituta.

Resposta ao vídeo do Sr. Mascarado Polêmico.

Sr. Mascarado Polêmico.

Assisti o seu vídeo sobre a homofobia e em muitos pontos você tem razão. Andam glamurizando a homossexualidade (e não homossexualismo como consta em seu vídeo) e infelizmente nota-se um destaque somente ao sexo do que aos direitos que a comunidade LGBT pleiteia. O respeito à opinião é sagrado e sua opinião é pautada em bons argumentos, porém cabe aqui uma crítica construtiva, pois alguns de seus importantes argumentos caem no erro da falácia alimentada pela manipulação dos fatos, algo que você tanto criticou, e acabou se contradizendo.

Na minha opinião, também acho que em vez de dinheiro público ir a uma parada gay, deveria sim ir para educação, saúde, segurança. Porém a atitude pública da parada é a mesma praticada no carnaval: dá-se instrumentos de prevenção de DST’s. O gel entra na jogada, pois em uma relação com coito anal, não há nenhum tipo de lubrificação, diferente de uma relação sexual com coito vaginal, onde a mulher naturalmente irriga o duto vaginal com um fluído. Há um risco quando não há esse tipo de lubrificação no sexo anal: o primeiro é de a camisinha se romper durante a relação e o segundo de que quando há sexo sem proteção, a fricção gere ferimentos e estes sejam porta de entrada de infecções e DST’s.

Claro que critico alguns pontos da Parada Gay, mas esta manifestação é legítima. O grande mal é que as pessoas desconhecem a realidade LGBT e isto é uma barreira para que se estabeleça uma relação de respeito. Fui na última parada e o que vi é bem diferente do que costumam relatar. Existem muitos que estão a fim de pegação e sexo fácil, mas esse público é uma minoria. A grande maioria do público presente na parada são de casais homossexuais e heterossexuais que vão em busca de paqueras, música e bebida. Quantas vezes vi grupos de homens tentando de forma idiota paquerar uma garota na parada, às vezes de forma rude e desrespeitosa?

Vivemos hoje em um mundo sexista. Tudo parece ser movido a sexo, o que é uma grande mentira. O que ocorre nas danceterias GLBT é o mesmo que ocorre nas danceterias hetero, mas sem o pudor hipócrita que circunda o sexo heterossexual. Basta comparar, e vemos que não existe diferença, do ponto de vista afetivo, entre uma relação heterossexual e uma relação homossexual. Da mesma forma, não podemos insinuar que todo homossexual é viciado em sexo ou pedófilo, ou ainda um pervertido sexual. As patologias psicológicas ligadas ao sexo não possuem vínculo em maior ou menor grau à sua sexualidade. Podem ser observadas mais em sexo gay devido ao fator de a homossexualidade ainda ser vista como aberração por boa parte da sociedade, sobretudo os mais conservadores e moralistas, sendo um sentimento violentamente reprimido e às vezes transformada em uma psicose.

A orientação sexual (e não opção sexual, conforme você diz no vídeo), não é algo que se deve exteriorizar escandalosamente. Sabemos que algumas pessoas agem assim, mas não é regra. A grande maioria dos gays e lésbicas, tem uma vida e comportamento normais perante a sociedade somente distinguindo da maioria da população em suas relações afetivas.

O ponto a ser observado é que o respeito, conforme você mesmo diz, se conquista. Mas a conquista do respeito não passa também pela quebra dos preconceitos e da busca pela verdadeira verdade?

É importantíssimo falar o que pensamos. Vivemos em uma sociedade democrática e livre em que o debate é o seu exercício mais sublime. Mas é importante se pautar em argumentos que não ferem ou estimulem pensamentos e atitudes que destruam o respeito e a liberdade. Pois antes de ser livre o homem precisa saber respeitar o próximo.

Na parada: política, cultura e economia

Nesta parte, a última, vou por em discussão os aspectos políticos, econômicos e culturais no meio GLBTT.

Hoje o movimento GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) está em evidência. Seja na música, teatro, teledramaturgia, cinema, televisão e política, a temática da homossexualidade deixou de ser um tabu e tornou-se um assunto em frequente discussão no Brasil. O assunto é polêmico e gera opiniões contra e a favor da homossexualidade, sendo que os grupos mais conservadores rejeitam, e os mais liberais defendem. Porém estamos diante de um debate mais franco e de uma abertura maior baseada na ética a qual a comunidade GLBTT deve se organizar de modo a não perder essa oportunidade de tornar o Brasil um país mais liberal e respeitador da diversidade sexual.

Aqui cabe uma auto-critica ao movimento GLBTT. Observa-se muito o caráter da festa da parada e dos seus dividendos econômicos, porém não procuram verter a parada em dividendos sociais, éticos e sobretudo políticos. É sabido de todos que pelo fato de um homossexual ter um grau de rejeição familiar alto, a maioria deles se tornam independentes economicamente de forma precoce. Por consequência, e também pelo fato de não constituírem famílias com dependentes incapazes, a probabilidade de um homossexual ter um poder aquisitivo maior é muito maior do que um heterossexual de mesma idade. Geralmente possuem uma escolaridade melhor e ganham mais, o que se reflete no público da parada ter uma média de gastos até 30% maior do que turistas heterossexuais, segundo a Associação Comercial de São Paulo. É tido como um nicho de mercado importante  e rentável e que não pode ser ignorado. Com efeito, essa independência e individualidade precoce se tornam empecilhos para que o movimento GLBTT se fortaleça e se organize para que pleiteie seus direitos de forma mais incisiva.

Vemos figuras homossexuais de destaque em todos os meios, porém alguns não se identificam e rejeitam a sua orientação sexual publicamente por acreditarem equivocadamente que orientação sexual e masculinidade são intimamente relacionados, ou ainda, que a orientação sexual seria um empecilho para que alguém realize uma atividade qualquer, como praticar esportes, realizar esforços físicos ou trabalhar de forma pesada.  Não há nenhum estudo que comprove que um homossexual esteja inapto a realizar qualquer atividade, assim como não exista nenhum estudo que inabilite uma mulher a realizar qualquer atividade. Ou seja, qualquer pessoa, não importando sua orientação sexual, tem o direito viver normalmente, e desempenhar qualquer atividade, pois a orientação sexual não desqualifica nenhum indivíduo a faze-la. Uma outra questão é que se alguém defende a causa gay é tida como homossexual, o que é uma falácia mesquinha, justamente para isolar a defesa dos direitos GLBTT aos homossexuais, enfraquecendo o movimento. Não é porque está defendendo uma causa que uma pessoa está diretamente envolvida nela. Há muitas razões para que relacionamentos homoafetivos possam ser aceitos e defendidos por muitas pessoas, homossexuais ou não. O controle da natalidade, o fim da intolerância, a melhoria das políticas de saúde sexual, a redução de batalhas jurídicas por espólio de homossexuais falecidos, o combate a homofobia, a promoção de novas células familiares, a aceitação do indivíduo junto a sociedade e o respeito a sua individualidade, a promoção da inclusão social e do respeito ao próximo seriam alguns dos valores que serão disseminados em nossa sociedade tornando-a mais pacífica, liberal e plural, com a adoção de direitos isonômicos aos homossexuais. O que é preciso é eliminar alguns vícios de nossa comunidade GLBTT como o estereótipo sexualizado que foi pinchado em muitos de nós. Precisamos combater também a auto-homofobia. É preciso que as pessoas possam se assumir sem medo de represálias, pois mais importante do que a aparência social é a auto-estima, e reprimir ou ocultar sua orientação sexual é danoso a sua própria personalidade e saúde mental.

Nossa sociedade também precisa execrar os estereótipos. As pessoas precisam entender que não existem profissões ou atividades gays ou héteros, que existem é pessoas, gays ou héteros, e que a atividade que exercem não tem nenhuma relação com a sua orientação sexual.

A mídia precisa parar com o terrorismo homofóbico na teledramaturgia e jornalismo. Infelizmente a maior emissora de televisão do país insiste em bombardear as mentes das pessoas com um discurso que coloca o homossexual como chacota. Há um seriado chamado “Macho Men” em que um homossexual se torna hétero após uma pancada na cabeça, e também uma cena da novela “Morde e Assopra” em que o personagem gay tem uma noite de sexo com uma mulher. Ninguém muda de orientação sexual de uma hora para outra, num passe de mágica. É possível que uma pessoa gay tenha uma experiência sexual com uma pessoa do sexo oposto, da mesma forma que uma pessoa heterossexual tenha uma experiência homossexual, como ocorre na adolescência de muitos jovens. Mas a insinuação da Rede Globo é sórdida. Induz o telespectador a crer que a orientação sexual é algo exclusivamente racional e voluntário de um indivíduo, mas é muito mais do que isso na realidade, gerando uma distorção dos fatos. Quando isso não ocorre, o personagem gay é estereotipado, efeminado bem distante da maioria dos homossexuais. E as lésbicas são tratadas como fetiche ainda, ou com deboche, com as personagens “Marias Sapatão”, em que são extremamente masculinizadas. Houve mudanças em alguns personagens atualmente, mostrando um lado gay mais próximo da realidade em alguns trabalhos e isto indica uma mudança de postura, mas ainda é exceção, não regra. Ainda há muito moralismo cercando a teledramaturgia da Rede Globo, sendo que cogitou-se muitas vezes cenas de beijos gay que foram até mesmo gravadas, mas cortadas pouco antes da exibição das novelas.

A política é um dos pontos mais cruciais deste processo. A eleição do deputado Jean Wyllys, o primeiro assumidamente gay a assumir uma cadeira na câmara dos deputados é um marco, porém os evangélicos já se organizaram politicamente há muito tempo e formam uma bancada que se opõe a conquista de direitos GLBTT. A organização de um braço político supra-partidário pela causa LGBTT é o primeiro passo para o estabelecimento de diretrizes impactantes que defendam essa causa. A organização deve partir da conscientização do gay, da lésbica, bissexual, travesti ou transgênero da importância em votar em representantes que atendam a suas reinvindicações. O fortalecimento das entidades de defesa GLBTT é também crucial, com uma participação mais ativa dentro do poder público para apurar e denunciar a homofobia em todos os aspectos de nossa sociedade. Somente um estado livre se forma, quando todos os cidadãos atuam de forma ostensiva em todos os movimentos sociais. Também é importante que a sociedade GLBTT fortaleça estas entidades participando ativamente de suas atividades.

A Drag Queen Tchaka disse na marcha anti-homofobia, ocorrida em São Paulo em abril que  “o gay é o sal, que tempera e dá aquele gostinho bom ao mundo” e é com orgulho que vamos levantar a bandeira do arco-íris, não apenas para mostrar as suas cores, mas para temperar a Terra com amor, respeito e humanidade.

Uma imprensa esportiva marrom

Ontem, dia 23 de junho, o jornal esportivo Marca estampou a conquista da Taça Libertadores da América pelo time do Santos, mas na manchete tratou de ofender a torcida corinthiana com a mensagem “Chupa Corinthians” e no crédito da foto da comemoração de Neymar, insinua que o Corinthians precisa aprender com o Santos a jogar a Libertadores. Isto ocorre pois o Corinthians é o único grande clube de São Paulo que nunca ganhou este certame.

O fracasso corinthiano em Libertadores não aumenta ou diminui o valor das conquistas dos rivais. Pelo contrário, são provocações irresponsáveis de jornais de péssimo nível editorial que acabam incitando a violência no futebol. Claro que uma conquista de um título provoque alguma provocação, mas esta não deve ser ofensiva como insinua o jornal.

Talvez a ideia do editor seja de fazer vender a edição pela rivalidade existente entre o Corinthians e outros grandes clubes, e até torcedores corinthianos comprassem a edição para que os rivais não o comprassem, mas este capitalismo selvagem e sensacionalista que tomou conta de parte da imprensa deste país, tornou o escárnio alheio um espetáculo. Um exemplo real de desrespeito a grupos humanos.

O torcedor corinthiano deve rejeitar essas provocações. Pois estas apenas atestam que o Corinthians é uma referência para vencedores e vencidos.

Na parada: o sexo

Continuemos nossa série de artigos sobre a parada gay, levando a debate o que caracteriza o homossexual: sua orientação sexual.

É tolice afirmar que a sexualidade apenas trata da orientação sexual do indivíduo. O comportamento e as preferências específicas de uma pessoa para ou durante o ato sexual também constituem sua sexualidade. Não se pode afirmar que exista um padrão sexual, pois cada indivíduo somente tem sua personalidade sexual mediante a experimentação e descoberta de sua sexualidade. É algo que é impossível aprender na teoria ou através de testemunhos alheios. Assim, qualquer classificação ou rótulo à sexualidade se torna um processo trabalhoso e às vezes inútil, pois cada indivíduo possui uma identidade sexual própria. E mesmo que exista uma classificação, esta pode ser distorcida e às vezes equivocada.

Entre os maiores equívocos em relação à sexualidade está o que aponta que todo homossexual é promíscuo e viciado em sexo. Não existe nenhum estudo que comprove este fato. Há entretanto uma cultura que acredita que este fato é verdadeiro, e muitas pessoas, incluindo alguns gays, lésbicas e bissexuais, acreditam que este fato é verídico. A promiscuidade não tem relação nenhuma com a orentação sexual, e sim com o comportamento do indivíduo, pois tanto existem homossexuais e bissexuais promíscuos como hererossexuais promíscuos, sendo que estes últimos são aceitos e os dois primeiros, não. Por termos uma cultura machista, a figura do homem viril, sexualmente ativo e promíscuo é aceita e até mesmo incentivada na puberdade pelos pais, inclusive.

Também acusam o homossexual de ser pedófilo. Há muitos casos de pedofilia envolvendo homossexuais, mas a maioria deles são de pessoas de idade e com a sua orientação sexual reprimida. Esses agressores também foram vítimas de uma sociedade que reprimiu sua sexualidade (não apenas no sentido de orientação sexual, mas também de comportamento sexual) e para ser aceitos, teve que bloquear seus desejos sexuais, mas provocando em si um efeito patológico de impulso sexual agressivo contra crianças. Claro que as origens da pedofilia se dão em um disturbios psicológicos, muitas vezes relacionados a possíveis abusos sofridos na infância. Mas este não tem origem na sexualidade do indivíduo, pois a maioria dos abusos comentidos contra crianças, as vítimas são meninas e os agressores, homens. Novamente o machismo entra nesta tônica por considerar um agravante o agressor e a vítima serem do mesmo sexo, enquanto praticamente banalizam quando são de sexo diferentes, até mesmo acusando a vítima de se “oferecer” ao agressor.

Outra questão a ser discutida é quanto a relação existente entre orientação sexual e identidade de gênero, que na prática, não existe. Apenas uma parte dos homossexuais não se identifica com seu gênero de nascimento (masculino ou feminino). Ainda existe uma crença de que todo homossexual masculino é efeminado e toda a lésbica é masculinizada o que é falso. Ainda existem pessoas com questões de identidade de gênero, mas que não se iniciaram sexualmente, o que comprova que inexiste relação entre identidade de gênero e sexualidade. Este é um dos tabus a respeito da homossexualidade que precisam ser quebrados.

O comportamento sexual aparentemente mais ativo entre a comunidade LGBT ocorre muito em virtude de uma cultura mais aberta e menos ligada a moralismos do que os grupos heterossexuais. Observa-se claramente uma maior dificuldade de grupos heterossexuais em conquistar pessoas para o sexo, frente a grupos homossexuais. No entanto, os relacionamentos estáveis tendem a ser mais duradouros e menos sujeitos a crises do que os relacionamentos heterossexuais, pois há um grau de conhecimento e cumplicidade maior entre as partes.

Em suma, somente observa-se os aspectos negativos da sexualidade para caracterizar o homossexual, porém observa-se que patologias sexuais não são exclusivas de uma orientação sexual, em maior ou menor grau. O que vemos é que relaciona-se o gay e a lésbica apenas ao comportamento sexual de forma deturpada e ofensiva, sem entender claramente que a pessoa homossexual é um ser humano igual às outras, com mesmos sentimentos e necessidades afetivas como qualquer outra. E por isso, não devemos rotular ou qualificar a sexualidade de uma pessoa apenas considerando sua orientação sexual.

PS: Importante salientar que relaciona-se a homossexualidade com as DST’s. O fato é que vemos aqui no Brasil uma queda entre homossexuais de incidência de DST’s, com destaque para a AIDS. Por outro lado, houve um aumento na incidência de DST’s entre heterossexuais. Ou seja, esta relação existente entre homossexualidade e DST’s é uma grande falácia.

Na parada: A igreja

Hoje iniciaremos uma série de artigos sobre a parada gay de São Paulo que ocorrerá no dia 26 de junho. E o primeiro artigo convida o leitor a debater sobre homossexualidade e religião.

Os grupos religiosos mais conservadores contestam a PLC 122 que criminaliza a homofobia no país. Segundo estes, a lei seria contra a liberdade de expressão religiosa, já que a doutrina religiosa prega a homossexualidade como um pecado e o homossexual um herege. De fato, há passagens da bíblia que atestam esta afirmação e que condenam o homossexual a ser tido como persona non-grata da sociedade cristã ideal. Entretanto, a própria Bíblia se for contextualizada e adaptada para os dias de hoje, nos mostra que a visão homofóbica de muitas entidades religiosas é distorcida e facilmente contestável.

O homossexual, o viciado, o mendigo e todos os marginalizados são hoje o que eram naquela época o leproso, o cego, a adúltera que também eram marginalizados e perseguidos pela sociedade. Agindo assim, os líderes religiosos que pregam a homofobia estão contradizendo os próprios princípios cristãos que defendem. Pois Jesus Cristo mostrou que todas as pessoas, sem distinção, podem ser cristãs aceitas e são dignas de compaixão e misericórdia.

Assim sendo, os conceitos cristãos elementares são a síntese dos conceitos humanos universais e ideais. Mas a distorção desses conceitos é o que faz com que muitas igrejas tenham esse papel segregatório. Observa-se uma leitura literal e não contextualizada das escrituras, e isto somado a termos líderes religiosos sem formação litúrgica adequada, os chamados obreiros e “Pastores de fundo de quintal”, que pregam a palavra de Deus sem conhecê-la plenamente. Também não há em muitos cursos litúrgicos um conhecimento apurado das escrituras e uma contextualização que promova um caráter inclusivo à religião. Sem dúvida, parte da distorção que equivocadamente relaciona homofobia e religião tem esse fato como uma das causas.

A história do cristianismo também ajuda a explicar a origem da homofobia em seu contexto filosófico. Quando o cristianismo surgiu, os cristãos pioneiros eram oprimidos pelos romanos que possuíam uma vida de orgias e o comportamento casto dos cristãos procurava se opor aos dos romanos. Além disso, havia uma necessidade de combater a superioridade numérica de outros povos por meio da procriação, que é a constituição de uma unidade familiar com numerosos descendentes. Esta política procriatória fez com que a população cristã crescesse em progressão geométrica e se tornasse a mais populosa do mundo antigo. Assim sendo, todo ato que não colaborasse com essa doutrina (a homossexualidade) era tido como transgressor e patológico. Hoje não existe a necessidade de procriação para o estabelecimento de uma doutrina religiosa, então por que a homossexualidade ainda é banida das igrejas? Por questão de controle. As igrejas mais homofóbicas são as que mais detém o controle e alienação sobre seus fieis. Um grupo se torna mais unido e disciplinado quando encontram um denominador comum, e a motivação é maior quando este denominador provém de uma possível ameaça. Isso alimenta o ódio como uma forma de auto-defesa e assim, os homossexuais passaram a ser tidos como inimigos da doutrina cristã, como método disciplinar de controle. Outra justificativa plenamente observável é de que a comunidade LGBT por ser marginalizada se torna vulnerável e frágil, e seria tecnicamente uma demonstração de força aniquilá-la.

Contudo, nota-se claramente um paradoxal comportamento que é cego e alienado. O comportamento nazi-facista destas organizações religiosas, as quais ferem até mesmo seus próprios princípios fundamentais em nome de poder e influência, disfarçados de moralismo, devem ser reprimidos com sabedoria e conhecimento. Se há em outras passagens das escrituras outros tipos de restrições que foram abandonadas pela comunidade cristã por não ser compatíveis com nosso modo atual de viver, por que então abandonar a homofobia e considerar a todos como filhos de Deus?

Visitando a Estação Pinheiros

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Ontem eu saí da faculdade, na região do metrô Tiradentes e fui a estação Pinheiros do Metrô de São Paulo e pude verificar a diferença frente as outras linhas. Ao embarcar na estação Paulista, o primeiro impacto foram as esteiras rolantes de acesso, porém a velocidade poderia causar acidentes aos incautos passageiros. De resto a aparência das estações é igual as outras inauguradas recentemente. Três detalhes me chamaram a atenção durante a viagem: a ausência de condutor, a livre circulação entre os vagões e o traçado sinuoso do percurso tanto em aclives e declives como em curvas para a esquerda e direita, mas a sinuosidade é suave e a viagem é agradável. O fato negativo é que nem nas estações, sequer nos túneis, há sinal ativo de telefone celular.

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Nota-se que as estações subterrâneas estão em profundidades elevadas, tendo nas estações uma grande quantidade de lances de escadas rolantes. Só a de Pinheiros tem cerca de 5 lances de escadas rolantes da plataforma a superfície. Como a integração com a CPTM ainda não estava pronta, tive que sair da estação e entrar na estação de trem para seguir viagem. Foi uma volta de cerca de 5 minutos caminhando até a plataforma da estação de trem. A previsão é que a integração com o trem esteja pronta em 2 de junho.

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Toda a viagem durou 1 hora e 10 minutos, sendo 20 minutos de trem e 50 minutos de metrô. Mas este tempo poderá ser de 10 a 15 minutos quando as estações Luz e República estiverem prontas. Também é preciso investir no Lead (intervalo entre trens) da linha da CPTM que ainda é muito alto, pois fiquei cerca de 10 minutos esperando o trem chegar.

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Com estas novidades e ajustes, é bem capaz de fazer o mesmo percurso, no futuro, em menos de 25 minutos.

O mérito dos grandes

O mérito dos grandes é reconhecer suas fraquezas e também seus superiores pares. Não há razão para tristeza com a derrota, pois tudo o que há de torto existe para ser endireitado. O futebol me inspira muito, e nesta final de paulistão, é muito inspirador reconhecer que a derrota veio por eles serem melhores que nós. Tivemos foco, falhamos, é verdade, mas chegamos e valorizamos a glória santista, que é digna de aplausos, pois está em um esforço heroico de ser o único guerreiro brasileiro vivo na Taça Libertadores.

Ao ouvir a entrevista de Muricy, técnico vencedor, vimos claramente que o futebol é sim uma ciência exata, e requerem os parâmetros corretos, as circunstâncias dadas favoráveis para distinguir vencedores de vencidos. O fracasso corintiano na Taça Libertadores e sua derrota no Paulista, o que é um mérito, pois demonstra uma recuperação psicológica extrema de uma derrota traumática contra o Tolima, aliada a derrotas de grandes clubes brasileiros na Copa do Brasil e Libertadores, mostram que é preciso tomar alguma atitude, pois vemos o futebol brasileiro em franco declínio.

Se a gerência de nosso esporte nacional continuar intransigente, capitalista selvagem e estúpida, amargaremos um grande vexame na Copa do Mundo de 2014, não apenas fora das quatro linhas, onde vemos uma grande desorganização na condução das obras para a Copa, como dentro de campo, com um futebol dependente de alguns craques (como vimos em 2006 e 2010 em que a seleção brasileira fracassou), frente a um abismo de jogadores mal-amadurecidos que são vendidos a clubes europeus a preço de banana.

O povo brasileiro já não anseia mais ser exportador de bens primários no futebol, assim como é na economia. Os clubes de futebol têm um potencial midiático enorme, mas somente enxergam nos direitos de televisão e patrocínios os quais pedem esmola, as fontes de renda para os clubes, fora a falha condução administrativa, com estatutos pouco democráticos, leis pouco severas, permitindo a má gestão, endividamento elevado, calote fiscal, corrupção e lavagem de dinheiro.

Você, torcedor brasileiro, também é culpado. Enquanto se conformar em sua zona de conforto e deixar de ser hipócrita rindo da derrota alheia e em vez de ficar protestando contra as falhas de seu time de coração, nunca veremos europeus, americanos, japoneses e africanos ostentarem com orgulho o manto sagrado de seus clubes em seus países de origem. Enquanto ficar ligado na TV, vendo seus amigos sacrificando seu sono para acompanharem no estádio o seu clube do coração, vai ficar tudo do jeito que está, pois os seus gritos não chegam aos atletas em campo. Enquanto você pensar em dar um murro na cara de um amigo seu por causa de futebol, você não será digno de ser um torcedor de seu clube. Não podemos carregar o ódio e sim a vontade de vencer, competindo, pois esta nunca se transforma em ódio e sim em amizade e companheirismo.

Sejamos francos, é hora de reinventarmos o futebol brasileiro.